sábado, 25 de outubro de 2008

Programa Eleitoral

Juremir Machado da Silva, Correio do Povo de hoje

Eu sou patriota. Tenho profundas convicções cívicas. Quando passo algum tempo no exterior, sou capaz de chorar ao som do Hino Brasileiro, especialmente quando tocado por uma escola de samba cheia de mulatas sensuais. Como não votei no primeiro turno, já fui me justificar. Estou acostumado. Não perco oportunidade de me justificar. É o meu complexo de brasileiro rastaqüera. Estou sempre com medo de não ter cumprido o meu dever de cidadão. Faço coisas inacreditáveis em nome do civismo: atravesso a rua na faixa de segurança (sempre que encontro uma), não furo fila, carrego no bolso o dinheiro do ladrão, ofereço meus parcos ganhos, centavo por centavo, ao apetite do Leão do Imposto de Renda, sabendo que boa parte irá pelo ralo da corrupção ou servirá para salvar o capitalismo das suas eternas crises, torço pelo Brasil do Ricardo Teixeira, vejo jogos narrados pelo ufanista Galvão Bueno e, principalmente, assisto a todos os debates eleitorais.

Não é fácil. Creio que eu deveria receber uma medalha de honra ao mérito pelo número de horas que passei neste segundo semestre assistindo a debates entre os candidatos à Prefeitura de Porto Alegre. É como novela. Ruim de doer, sem conteúdo e puro clichê. Mas a gente se acostuma. Assim como passo das novelas brasileiras às séries americanas, fui do debate local aos debates de outras capitais e acabei nos debates dos Estados Unidos. O mais curioso dos programas eleitorais brasileiros é a falta de programa. Não tem programa em sentido algum. Nem programa político nem programa de televisão. Parece discurso de jogador de futebol: estamos aqui para ajudar o coletivo, trabalhar em equipe, dar o nosso melhor pelo bem de todos e alcançar os nossos objetivos. Resisti bravamente e só dormi uma vez.

De resto, dormi também no segundo tempo do jogo do Brasil contra a Colômbia, depois de perceber a mesma falta de programa e sentir o mesmo tédio. Os jogadores andavam em círculos, como os candidatos, tentando, quando não havia outro jeito, encaixar um contra-ataque desajeitado ou fadado a ser um tiro pela culatra. Poderíamos retomar certos aspectos da democracia grega e usar o sorteio como método de escolha, o que nos livraria dos debates de televisão. O resultado não seria muito diferente e evitaria o problema dos financiamentos. De qualquer maneira, alguns candidatos são tão insistentes que sempre acaba chegando a vez deles. Triste mesmo é perceber que os debates brasileiros são mais politicamente corretos que os norte-americanos. Aqui, o máximo de crítica frontal que se pode fazer ao oponente diz respeito ao seu novo corte de cabelo.

Ao final de uma maratona de programas eleitorais, exausto e viciado, ainda não sei com precisão o programa de cada candidato. Sei apenas que vão melhorar a cidade, manter ou acelerar a mudança, deixar o passado para trás e 'encarar o futuro de frente'. Ainda bem. De costas fica impossível. Gravei cada debate para rever e tentar resolver esse mistério. Em todo caso, não vou pipocar. Colunista que se preze escancara o seu voto. Votarei numa pessoa, como já disse em outras ocasiões, que é, ao mesmo tempo, liberal e de esquerda, progressista e madura, inovadora e com boa experiência, com a vivência do Senado e a militância radical necessária aos tempos de hoje, um candidato com estrela em sintonia com o global. Eu vou de Barack Obama.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu ia comentar apenas um vez aqui, mas não resisti. Nunca vi tanta bobagem escrita junta. Não precisa ser nenhum pouco entendido em política para ver que um cara que ninguém conhecia e que de uma hora pra outra tornou-se o ídolo maior dos pobres, oprimidos e indignados, usou de puro marketing pessoal e político para se promover. Nada contra o Obama, tomara que ele ganhe, mas vir aqui falar mal de político brasileiro, e da propaganda política brasileira, e falar bem do Obama e da campanha do Obama, pra mim, é muita contradição, sendo que o caso Obama entrou para a história do marketing político mundial!
E me polpe, não precisa assistir nem 5 minutos de debate entre Fogaça e Maria do Rosário para saber em quem votar. Sem comentários!!!!