sábado, 11 de outubro de 2008

Oxigênio

Elton Schimo, de Santa Rosa

Números a mancheias
Cada vez mais creio menos nos números. Não que esteja a duvidar dos rigores da ciência matemática, por hora inda não, mas sim de sua “aplicação” pela mídia em geral. Ao mesmo tempo, causa-me perplexidade a aceitação incondicional destes números pelos leitores, radiouvintes, navegantes e telespectadores.

Vejamos alguns exemplos recentes desse “me engana que eu gosto”.

Anabolizante planetário
Já nos acostumamos a deparar com números vitaminados quando confrontados com as peculiaridades chinesas. Vai ver que foi por isso que passou batida a jactância dos locutores e comentadores de tv em lascar uma audiência global de nada mais nada menos que 4 bilhões de almas televidentes para a incontornável - incontornável mesmo? Acho que nem tanto - cerimônia de abertura da XXXXXXVIII (ou algo que o valha) Olimpíada da Era Moderna. Levando-se em conta que a estimativa populacional global está batendo nos 6,7 bilhões (estimativa atualizada minuto a minuto no site do IBGE) fica um pouco difícil engolir tamanha balela. Mas não foi o que pensaram os editores de jornais e portais brasileiros, céleres em reproduzir o número tal e qual propalado.

Algum paralelo com a cobertura dos eventos em nossa região?

No berço do socialismo corporativo
No decorrer e no encalço das duas grandiloqüentes - e breguíssimas - convenções político-partidárias norte-americanas, estatísticas de intenções de voto pululavam sucessiva, aleatória e contraditoriamente nas telas das cable news networks. Números compilados nos cafundós de Utah eram comparados com seus pares coletados na costa de Massachusetts, com o intuito de apresentar evoluções e involuções do eleitorado. Um verdadeiro funk do crioulo doido, cuja única real finalidade parecia ser chancelar as expectativas geradas pela teledifusão destes massivos eventos. É bom lembrar que o pleito ianque decide-se de maneira indireta, num estranho colégio eleitoral - quando não no tapetão -, independentemente do número absoluto dos votos em disputa.

Esporte nacional
Um dos principais esportes nacionais - tão praticado quanto malhar incondicionalmente o técnico da hora da Seleção -, a cantilena de apregoar de corruptos e ladrões os elementos que compõem a classe política tupiniquim (com deferência àqueles que granjearam o direito de nos representar pelos gabinetes, corredores e plenários da longínqua Brasília, nossa idílica Ilha da Fantasia encravada no planalto central) traveste-se, in questo momento, de total hipocrisia.

Finalmente, depois de quatro longos anos de espera, pudemos outra vez participar da festa, mesmo que de maneira fugaz. Confidenciamos então, a todos que nos dão ouvidos: votei no fulano, porque ele vai me ajudar naquele negócio, vai remanejar minha mulher de setor, albergou meu tio, forneceu um terno de camisetas, pagou uma cervejada com salsichão, encascalhou a estrada, ficou de me arrumar uma boquinha, aliviou a conta d’água, abasteceu o tanque da caranga, descolou uma cestinha básica, providenciou uns tijolos, e por aí afora. Assim, sem o mínimo constrangimento, e inclusive com uma pontinha de orgulho, lambuzamo-nos no melado da politicagem.

E seguimos, ladeira abaixo.

Enquanto isso, em Nebraska...
Automóveis, motocicletas, transeuntes, cães sem dono, camionetes conduzidas por madames, bicicletas, coletivos e caminhões - todos, à exceção da cuscaiada, à beira de um ataque de nervos -, disputam palmo a palmo as ruas e avenidas da cidade. Auxiliados por rótulas, cocurutos, tachões, quebra-molas e buracos que teimam em continuar brotando, inadvertidamente, dia após dia, enredam-se incautos numa competição arriscada e sem sentido.

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