sexta-feira, 31 de outubro de 2008

É muita falta de editor...

A torcida contra a conquista do título do Mundial de Fórmula 1 atingiu conotações racistas no site espanhol "Pincha la rueda de Hamilton". Em um jogo, o visitante pode deixar objetos em uma pista virtual de Interlagos para evitar que o piloto britânico termine o GP do Brasil. O problema é que algumas pessoas deixaram comentários racistas. Leia mais no site do Estadão

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Quem sabe, trate-se de um site "irônico", como querem alguns jornalistas que defendem manifestações suspeitas de racismo em jornais ligados ao meio sindical?

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Recentemente, a funcionária da UFPel Rosane Brandão publicou o texto "A nova tendência de moda para os próximos anos", onde ela tenta (e esse "tenta" é muito sério) escrever sobre a questão das cotas nas universidades. O material foi publicado no periódico da Associação de Servidores da Universidade Federal de Pelotas. No artigo, escrito mais com mais o coração que com o cérebro, Rosane tece frases que, segundo seus defensores, são "irônicas": "Claro que eles [os negros] têm direitos desde a abolição. Mas a gente sabe que eles ficavam lá, na marginalidade, que sempre foi o lugar deles".

É preciso não entender nada de responsabilidade, e menos ainda de semiótica, para fazer uma defesa dessas. Qualquer manual de redação de fundo de quintal estabelece critérios mínimos para o uso da ironia em textos que pretendam ser expositivos.

Primeiro, tenha identidade e familiaridade com o leitor, para ser reconhecido com facilidade. Depois, tenha muita segurança com cada palavra que escreve. Ainda (e mais importante): não brinque com coisa séria.

Agora é aguardar para que colunista e o jornal respondam juridicamente pela publicação.

O mais curioso não é o fato desses disparates terem saído de algum teclado inocente. O que me intriga são os responsáveis pelo jornal. Ninguém, com o mínimo de olho crítico, teve a capacidade de analisar os potenciais reflexos de um texto desses? É muita falta de editor.

4 comentários:

Anônimo disse...

Senhoras e Senhoras,

Não sou fã de Rubens Amador Filho (muito pelo contrário, o tenho por fronteiriço), agora, daí a desmerecer sua inteligência e cultura vai longe. O cidadão é sim culto e inteligente, ainda que use suas energias para o mal.

Mas o fato é que, se Rubens nada entende de semiótica, vocês nada entendem de pessoas. Não é necessário mais que dez minutos para descobrir quem é Rosane Brandã, mulher, mãe de quatro filhos, socialista, casada com um negro e uma das maiores defensoras das políticas de afirmação positiva (que vão muito além das cotas raciais). Isso nem precisaria ser dito, basta àquele que a acusam que leiam o texto dela, publicado na edição anterior do mesmo informativo, que observarão que, naquele número, sem ironia, Rosane faz um agradecimento e reconhecimento público ao Movimento Negro de Pelotas, na pessoa de Carla D'Ávila, em relação à conquista da categoria e já antecipa que a próxima briga, encampada por ambas, será a aprovação de cotas raciais. Também é público que Rosane defende as cotas raciais e não as sociais, pois tem a nítida compreensão que o passivo histórico da sociedade brasileira com as negras e negros é muito maior e mais grave que a diferença de classes.
Rosane, por ser casada com um negro, vê, ouve e sofre o racismo velado de nossa sociedade arcaíca e operessora. Aquelas barbaridades que lançou em um texto não sairma de sua mente fértil, constituem uma coleção das violências que recebeu da sociedade.
Um amigo jurista manifestou que a Constituição de 1988 prevê o princípio da presunção de inocência, pelo qual ninguém será considerado culpado antes de trânsito em julgado de decisão condenatória, e que o crime de racismo imprescinde a comprovação do dolo. De outra banda, esse memso operador do direito manifesta que até agora os únicos crimes materializados nesse caso foram de injúria e difamação contra a servidora pública. Antes de acusar, seria legal ouvir a versão de todas as partes.

Anônimo disse...

Valeu anônimo! Exposições anônimas são tão convincentes!

P.S.: Quanto mais se fala em racismo, mas racismo existe.

Anônimo disse...

Conheço a Rosane e sei que sempre militou pelas questões raciais e é casada com um negro. Isso é fato, aliás, a grande maioria do movimento negro tá do lado dela.
Ocorre que algumas pessoas fizeram panfletos com frases isoladas do texto, de forma descontextualizada, colocaram a foto e o nome dela e distribuíram tais panfletos em escolas e no calçadão. Repito, não publicaram o texto inteiro, mas frases soltas, fora de contexto, e distribuíram. A meu ver, isso sim configuraria crime de calúnia e difamação, mas deixemos isso de lado no momento.
Gente, o texto é claro, a ironia foi utilizada como forma de escrita, sem que isso se confunda com ironizar os negros. Basta ler o texto inteiro sem pré-julgamentos pra que se conclua isso.
Mas vamos hipoteticamente supor que a Rosane não tenha sido feliz na escrita do texto...No máximo, podemos dizer que ela não sabe escrever bem (o que eu discordo, mas tudo bem!), mas jamais podemos acusá-la de racismo! O texto é forte, é brutal, mas ali tem frases que muitos afrodescendentes certamente já ouviram!
Me parece que a servidora já conversou com o grupo odara, responsável pela acusação, o que isso vai dar não se sabe, mas espero que antes de julgá-la antecipadamente, todos procurem conhecê-la como eu e várias outras pessoas conhecem, que procurem conhecer a sua luta junto aos movimentos sociais. A Rosane não é e nunca foi racista, aliás, nem o próprio grupo odara acha isso, basta lermos as declarações dadas por seus representantes!
Passada essa fase, sugiro também que se aproveite para colocarmos em pauta a questão das cotas raciais, assunto que deve ser discutido com a sociedade e que até agora não teve a devida atenção.
Flávia.

Anônimo disse...

Capeta, a Rosane seguiu exatamente o que dizes ser necessário para escrever um bom texto. O veículo que publicou o texto é um jornal distribuído exclusivamente em sua categoria. Essa servidora escreve e se manifesta sempre em sua categoria. É por demais ocnhecida, inclusive já tendo sido diretora por várias gestões no sindicato. Pode ter quem não goste dela (com certeza!), mas não tem quem não a conheça. E as pessoas conhecem justamente esta linguagem, este jeito de se manifestar, independente de gostarem ou não. Também não brincou com o assunto, fez uma ironia, o que é diferente. E surte um efeito muito melhor. Ela tbém já havia escrito, sem ironia, na edição anterior, um texto onde se solidarizava com o movimento negro. Estranho foi as pessoas terem se apropriado de um jornal, extraído frases soltas e lançarem no calçadão da cidade! Mais: qto. ao editor, possivelmente por isso mesmo que deixou publicar, porque era um jornal de circulação interna e todos a conheciam, além de já ter manifestações públicas desta servidora. Mas, pior que tudo isto, eu li o jornal, e o próprio blog do Capeta diz que é irônico. É irônico, todos entenderam e além disso a sra. não sabe escrever? Ela, Marilene Felinto, Veríssimo, etc.. Tá bom podes dizer que estou mal comparando, mas, em sua categoria ela é tão conhecida qto. estes escritores são em seus meios. O fato é: um pouquinho mais de leitura não faz mal a ninguém!