quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Entrevista do Capeta

Everton Maciel, de Pelotas

O jornalista Danilo Barba (foto), 22 anos, enviou uma entrevista para o Capeta. Ele é estudante do 4º semestre de jornalismo na ECA/USP. Segundo ele, a intenção é "estudar o comportamento dos blogs e mostrar o impacto do webjornalismo na contemporaneidade".

Com autorização do autor, reproduzo a entrevista. Quem sabe ajude os gatos perdidos a compreender o Capeta. Respondi as perguntas pessoalmente. Lembro-me que a última vez que fui entrevistado foi por alunos do ensino médio. Agora, um aluno da USP. Poxa! Que evolução!

Acompanhe:

Danilo Barba - Quando começou a escrever o blog, quais eram suas intenções e por que você optou por essa forma de expressão?
Capeta - O Capeta foi arquitetado em fevereiro 2007. Foi projetado para publicar tudo que não podia ser publicados no Jornal Noroeste, um semanário do interior do Rio Grande do Sul onde eu trabalhava. Nunca foi anônimo, e deu certo. Depois, eu saí do jornal de descobri que jornalista desempregado vira blogueiro. Curioso.

Barba - Como é sua rotina de postagens? Quanto tempo dedica por dia à produção do blog?
Capeta - Dependendo da rotina de estudos que tenho na faculdade, publicou ou de manhã ou à noite. Meus colegas de Santa Rosa e Horizontina publicam quando pensam que devem publicar.

Barba - Como você decide os temas que vai abordar e quais são suas fontes mais freqüentes de atualização de notícias?
Capeta -
Leio mais de 10 páginas de jornais todas as manhãs. Os três principais jornais do Estado (Zero Hora, Correio do Povo e O Sul), a página da EFP, Reuters BR, EFE, revistas Veja e Época. Compro, de forma escalonada, os dois diários de Pelotas (Diário Popular e Diário da Manhã) e visito o site do jornal onde trabalhava para saber se minha cidade não entrou em convulsão. Os blogs dos “blogueiros pop star” também precisam estar na lista, mas não são fundamentais. Ainda ouço rádio AM durante toda a manhã. Só preciso encontrar um fabricante de celular que se preocupe em colocar AM no aparelho. Acabo refém do rádio com antena.

Barba - Como você lida com as críticas e que critérios usa para responder ou não aos comentários?
Capeta -
São poucos os comentários. Geralmente quem comenta no Capeta quer criticar o blog e os blogueiros. Isso me deixa feliz. Jornalista que morre cheio de amigos é porque passou a mão na cabeça de muita gente. Adoro ouvir críticas, mas sem ofensas. No entanto, depois que alguns colegas começaram a ser ofendidos, comecei a moderar os comentários. Antes eram instantâneos.

Barba - Quais as dificuldades de se manter um blog? E as vantagens?
Capeta -
Não tenho vantagem, nem dificuldade. Fazemos sem compromisso. É curioso isso: o jornalismo não gera nem vantagens nem dificuldades, quando sozinho. Ambas as coisas são produtos do jornalismo quando agregado a outros fatores, como empresas, governos e instituições. Se é bom fazer jornalismo assim? Não sei. Pessoalmente, sinto falta do calor das redações. Mas tirei um tempo para me dedicar aos estudos.

Barba - Quais são as diferenças entre na produção jornalística do blog em relação ao trabalho nos demais veículos?
Capeta -
A qualidade do material deve ter o mesmo cuidado. O blog só tem uma diferença: nele uma só pessoa é responsável. Nas redações de veículos impressos ou eletrônicos, há vários culpados. Sempre que há vários culpados, não há culpados.

Barba - Com as novas tecnologias, com o poder de divulgação e proliferação dos blogs, o fazer jornalístico está muito mais monitorado, controlado e questionado? Capeta - Não penso que haja algum tipo de monitoramento ou controle. Existem questões que são inerentes a todos os seres humanos, independente do espaço que ocupam ou de como expõe as suas idéias. Com a internet as coisas ficaram mais democráticas. Digamos que estejam até democráticas demais. Mas não julgo que algum tipo de controle possa resolver isso. Sou otimista quanto a uma mudança (ou adaptação?) cultural.

Barba - Como você analisa a blogosfera brasileira?
Capeta -
Muita coisa boa se produz nos blogs “suburbanos”. Se a internet é um grande aterro sanitário da história da civilização contemporânea, os blogs são os centros de reciclagem.

Barba - Na rede, todo mundo pode publicar e qualquer um pode praticar um “ato jornalístico”, você acha que o jornalismo tradicional vai acabar?
Capeta -
O jornalismo tradicional não acabará. O raciocínio é simples: a internet é um ponto de convergência das mídias. É preciso que os veículos se adaptem, mas o jornalismo especializado não deixará de existir.

Olha só: sempre que um postulante a funcionário “faz tudo” numa empresa, nós sabemos que ele não serve para muita coisa. A internet é isso: um grande genérico. Mas nunca terá a efemeridade do rádio, por exemplo.

Barba - Quantos blogs você lê diariamente? Pode citar alguns?
Capeta -
Leio o Blog do Noblat, do André Machado, da Rosane de Oliveira, do Políbio Braga, do Marcelo Tas, do Nassif e circulo pela lista de favoritos, só para ver se os blogs dos amigos estão sendo atualizados e com que conteúdos.

Barba - O que torna um blog interessante ou muito chato?
Capeta -
Há conteúdos interessantes ou chatos. Um conteúdo interessante é aquele autêntico, escrito pelo olho único que apenas um blogueiro de talento tem. Muitas vezes, as coisas que mais passam em branco são as mais interessantes. Todo mundo vê, mas não nota. Daí vem um blogueiro com um parafuso fora do lugar, e mostra o que só ele notou.

Eu, por exemplo, sou fã de reportagem. Mas, salvo raras exceções, não há reportagens em blogs. Eu mesmo gostaria de estar fazendo isso no Capeta, mas não tenho dedicação exclusiva ao meu filhinho. E tem outra: reportagem de verdade só existe uma: aquela com cheiro de tinta e papel.

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