quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Nocturne - parte III

Ana Zyk, a contista das sextas-feiras. Acompanhe as partes anteriores de Nocturne na editoria de Contos

O violino, tão cuidado por Maza, agora ia de cá pra lá nas mãos do músico, batendo nas pessoas, enquanto tentava se desviar. Então, em uma rua mais vazia, onde ele acreditava que estava a salvo. Ela o achou.

- Eu vim de tão longe, Maza, que não vai ser aqui, em Florianópolis, que vou desistir! Falou com ele ainda de costas.

Sua alma gelou quando ouviu a voz de Alice. Ele se virou.

- O que você veio fazer aqui?

- Você sabe muito bem... Não preciso ficar dando muitas explicações.

- Se for o que eu estou pensando, Alice, você está perdendo seu tempo e seu dinheiro, é claro.

- Só perco meu dinheiro quando invisto mal. E eu investi ele em você, Maza. Você me decepcionou, sim, mas foi por outra coisa.

- Você veio atrás do Stradivari? Pois pode ficar com ele!

Espichou os braços com o violino na mão e o arco na outra, como que entregando para Alice.

- O violino Stradivari eu lhe dei de presente, Maza. Lembro bem de uma de nossas viagens à Alemanha, onde inventei uma desculpa qualquer para sair de perto de você e fui a um leilão porque sabia que essa raridade, um de seus maiores sonhos, estava esperando por um lance. Não o tomarei de volta, não.

- Então, o que queres?

- A minha vida de volta...

- Como assim?

- A minha vida com você de volta!

- Alice, há cinco anos atrás, você fez a sua escolha. Não posso acreditar que depois de tanto tempo você esteja voltando atrás. Eu sou um miserável. Negro. Sem estudos. A única coisa que sei fazer é tocar um violino. Mas somos muito diferentes. Você, Alice, é uma milionária, uma mulher inteligente, sabe falar várias línguas, uma violinista talentosa... E está casada.

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