sexta-feira, 11 de abril de 2008

AMOU - Parte III

Prendam o fôlego! Essa é a terceira, e última, parte do conto "Amou". Não arranhem a cadeira, e boa leitura...

Ana Zyk

Esta hora ele já estava de pé e ao contrário do início de nossa conversa, ele não conseguia mais se olhar no espelho. Tanto que até o quebrou com o soco que deu neste momento.

Com as mãos sangrando e suas veias pulsando ele grita:
“Como casaram se você é casada comigo? E nossa lei não permite casamentos homossexuais Marina!” Ele gesticula e o sangue respinga para todos os lados.

“Casei sob a legislação gufiana. Sou casada gufianamente. Lá as leis funcionam”.

Ele chora. As mãos sangram. Coloca as mãos de sangue no rosto. Soluça.

‘Algumas gufianas disseram que nessa hora muitos homens caem na risada, pois não acreditam. Mas eu conheço Rogério, esta reação era esperada’.

Continuo.

“Foi então que, depois de dois anos casadas, resolvemos ter um filho”.

Ele chora com mais força.

“E este filho que tenho em minha barriga é dela e não seu”.

Ele pára de chorar e solta uma grande gargalhada.

‘Elas me falaram também desta atitude’.

“Por acaso vocês gufianas inventaram uma forma de ovulação entre mulheres? As cientistas gufianas dedicaram toda sua carreira em projetos de pesquisa deste tipo e você, veja só, ficará na história como primeira mulher a ter um filho verdadeiramente de uma relação homossexual?”, ironizou ele.

“Não, Rogério! Não seja estúpido!”

‘Homens! Quanta ignorância. Animalescos. Acham que os filhos vêm apenas de uma fodinha carnal. Acho que não vou me arrepender, afinal, como diz uma das frases principais do Gufo: esperma ovulado, homem descartado. Nesse caso, descartado literalmente’.

Respiro fundo e continuo a explicar-lhe.

“Eu fiz apenas o sexo com você, mas na hora eu pensei fortemente nela e combinamos que ela também pensaria em mim. Você sabe como é, né?”.

‘Não deveria ter falado isso’, pensei, mas acho que não me contive em função de estar condicionada a falar toda a verdade.

“Você quer me dizer que este filho não é meu porque estava pensando nela enquanto fazia sexo comigo?”

“Estou querendo dizer que fiz sexo com você e amor com ela no mesmo momento. Para nós, gufianas, o espírito vale mais do que a carne e nossos filhos são gerados desta forma. E já existem vários filhos de gufianas, aliás, filhas, pois o Gufo prioriza a linhagem feminina. Mas essa parte não irei te contar porque ainda não vem ao caso. Só quando descobrir o sexo da criança”.

Ele se olhava fixamente em um caco do espelho que estava no chão. Desta vez até pude entender o que ele estava pensando e sentindo. Perplexidade.

“Me parece realmente que vocês mulheres só têm dois neurônios mesmo. Você pensa que vou deixar barato, Marina? Que vou deixar você levar meu filho assim? Que vou permitir que você, conforme estava insinuando, mate um filho, caso for homem? Que esse clube da luluzinha vai continuar existindo? Vocês estão desrespeitando a lei civil e moral. É muito fácil levar vocês à ruínas. Cadê os homens que foram traídos dessa forma?”

Apertei a bolsa em meu colo. Meu coração parou. Ele parou. Olhou para a bolsa.

‘Até que homens são inteligentes, pois na hora entendeu o que acontecem com os homens que ficam sabendo do Gufo’.

Tentou balbuciar algumas palavras. E com um gesto rápido retirei o revólver calibre 38 com a brasão Gufo. Levantei-me e apontei a arma para ele. O suor e o tremor deixavam-na instável em minhas mãos. Ele dava passos para trás. Tentou abrir a porta. Não conseguiu. Estava chaveada.

Esperma ovulado, homem descartado.

A frase do Gufo me veio à cabeça como uma ordem robótica.

“Me perdoa”, foi a última coisa que lhe disse com os olhos marejados. E mais rápido com que a frase proferida por mim e processada por ele, foi a bala percorrendo o quarto de uma ponta a outra até chegar a porta em que ele se posicionava em frente.

Dei sinal pela janela e em poucos minutos cinco gufianas encarregadas dos corpos entraram em minha casa com a missão de dar o sumiço e eliminar as evidências. Eram especialistas. Mandei mensagem à Mãezona, que é a chefona, na hierarquia do Gufo: Descartado 389.

No dia seguinte os jornais davam a manchete:

Mais uma mulher grávida tem seu companheiro desaparecido
Até o momento foram registradas quase 400 ocorrências do mistério da Grávida Abandonada.

***

Na sessão "Contos", o leitor pode acompanhar os campítulos anteriores e outras obras assinadas pela colega Ana Zyk.

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom.. muito bom mesmo.

Sinistro.. mas ótimo.
Daria um ótimo enredo para um filme.
Mas triste também... o cara não tem culpa alguma... escuta tudo aquilo e ainda leva um tiro.. seria mais justo só dar um tiro
uhaeuhaeuhaeuhuhae

bj

Anônimo disse...

Já li vários conto, porem este me supreendeu, Ana nos leva a pensar de uma determinada forma,mas o conto toma outro rumo nunca imaginado,a Seita feminina Guifiana foi incrivel!!
Adorei o conto!!!
Parabéns Ana!!


**keycianne Oliveira

Gerson Rodrigues disse...

Zika!...

Beleza de conto!