sexta-feira, 14 de março de 2008

Morangos - parte II

Hoje é sexta-feira. Sexta-feira tem gosto de receio o dia todo, por isso, segue a segunda parte do conto Morangos, uma edição encapetada do texto fino e requintado da colega Ana Zyk. Na semana que vem, a última parte do conto será publicada nesse mesmo espaço, nesse mesmo horário...

Ana Zyk

Passado um mês, eu havia reconquistado aquela em que saía no dia que conheci Catarina e também já a havia chutado e estava saindo com outra. A Paula.

Estávamos eu e Paula na minha cobertura na Praia Brava divertindo-se com nossos órgãos genitais, quando ouvimos o interfone tocar. Paramos. Suspirei. Fiz cara feia. Enrolei-me numa toalha e fui atender.

- “Sim”?

- “É a Catarina.”

- “Catarina? Não conheço ninguém com esse nome. Tocou no número errado”

- “Catarina do Quiosque. A do suco de morango.”

Respiro fundo. “O que essa menina está fazendo aqui?

- “Ahm, sei. Desculpe, mas não posso atendê-la agora. Passo outro dia no Quiosque para conversarmos”.

- “Estou a um mês esperando você aparecer lá...”

Paula já está de pé na sala toda nua me olhando com cara feia.

- “Olha só, é complicado conversarmos sobre isso agora, vai pra casa, você é só uma menina”.

- “Estou grávida. Não vou embora”.

Minha respiração parou. Meu olhar que olhava pra todos os lados a procura de palavras para despistá-la parou. Não soube dizer mais nada. Comecei a suar frio. Ela continuava.

- “Abra a porta para mim, pois não vou embora”.

Sem pensar, nem dizer nada apertei o botão.

Paula continuava nua na minha sala. Ah, Paula! Estupidamente linda e sexy.

- “O que está acontecendo, Alisson”? Aposto que era uma das suas biscates atrás de você né.

Você é um sacana mesmo. Mas agora vamos voltar pra cama, vamos?”

Ela vinha se enroscando em mim. Cheirosa. Quase havia me esquecido de que alguém que eu mal conhecia estava subindo carregando um filho meu no seu ventre. Uma menina! Eu estava com 30 anos. Nunca pensara em me casar, nem sequer em ter filhos. Tinha as mulheres que queria. Elas me mimavam, não me faltava sexo, ou seja, não sentia a necessidade de me casar. Não amava nenhuma, mas era apaixonado por todas.

Catarina tocou a campanhia.

- “Por quê deixou a biscate subir, Alisson?” perguntou Paula, incrédula.

Estava absorto em um turbilhão de pensamentos. Calado, abri a porta.
Paula ficou sem ação. Continuou ali, nua, parada na sala, olhando para a figura que surgia por detrás da porta que eu acabava de abrir.

Catarina ficou sem ação. Olhou Paula de cima a baixo assustada.

Eu estava sem ação. Apenas olhava Catarina como se, assim como há um mês atrás, a vi pegando naqueles morangos e os colando no liquidificador, parecendo a mulher mas poderosa do mundo, hoje ela tinha todo o poder de pegar a minha vida e colocar num triturador e acabar com ela.

Paula foi a primeira a tomar uma atitude. Saiu da sala, foi para o quarto, vestiu-se e foi embora. Queria implorar para que ela ficasse não me deixando sozinho com essa menina, pois ela iria destruir a minha vida. Como se pedisse socorro para Paula. Mas Paula foi. E Catarina ficou.

A sala enorme da minha cobertura se tornou pequena. Ela sentou-se em meu sofá. Apresentou o exame e começou a se queixar de eu não ter ido procurá-la, das necessidades de sua família e de como seria difícil ter um bebê. Eu, de toalha ainda, me servi uma dose de whisky e bebi silenciosamente enquanto Catarina falava.

- “E então? O que pretende fazer?” Ela me perguntou, dona de si.

2 comentários:

Anônimo disse...

nem a novela da maria do bairro teria um final tão mexicano para um capítulo! hahaha

coisa do jr, nosso editor-chefe-mestre-guru.

Sem Papel e Tinta disse...

Em alguma coisa eu preciso ocupar o meu tempo, ente uma paixão e outra...

Obrigado pelo Guru...

Júnior