sexta-feira, 7 de março de 2008

Morangos

Nossa colega Ana Zyk, atualmente jornalista na cidade de Sorriso no Mato Grosso, continua mantendo a sutileza em seus textos. A partir de hoje, publicaremos um conto fabuloso, "Morangos", que será divido em três partes. Aproveitem o telento da moça...

Ana Zyk

Minha mulher não gosta de morangos. Somos casados há 10 anos e desde que a conheço ela não gosta de morangos. Uma fruta que, para mim, é impossível não gostar. Seu aspecto é elegante, charmoso, cheio de poros que parecem a pele de um rosto de uma linda mulher. Sua forma arredondada e cheinha bem que lembram duas coxas grossas, voluptuosas de uma linda mulher. Seu cheiro tão sensual e doce bem que me lembram o perfume do cangote de uma linda mulher. Sua cor e maciez são como lábios femininos. E aquele suquinho... hmmm...há coisas que é melhor nem pensar.

E minha mulher não gosta de morangos. E ela não gosta que eu fale de morangos. Ela sabe que associo morangos às minhas amantes. Ela sabe que tenho amantes. Ela não gosta das minhas amantes.

Modéstia à parte sempre escolhi bem as amantes. Todas elegantes, charmosas, voluptuosas, sensuais e perfumadas. Já a minha mulher... Eu não soube escolher. Acabei logo casando com uma que não gosta de morangos, nada elegante, nem charmosa e nem é uma linda mulher. Por quê eu me casei com Catarina? Faço cara de quem diz “é uma longa história”.

Eu era apenas um “boa-vida” despreocupado e com muito dinheiro no bolso e com muitas mulheres à minha volta. Herdeiro de uma grande empresa de geléias de frutas. E é claro que a geléia que eu mais gostava era a de morango. Em cada sabor, nos potes, havia desenhado uma mulher. Assim como a “Moça” desenhada naquela lata de leite condensado. E a mulher que eu mais admirava era a do pote de geléia de morangos. Não sei se comecei a gostar de morangos por causa da mulher desenhada no pote de geléia de morango ou se aprendi a admirar ainda mais as mulheres por ter uma maravilhosa desenhada no pote da geléia da fruta que mais gosto. Talvez Freud explicaria, mas lembrei que estava explicando como estou casado com uma mulher nada comestível - ela até era, senão não a teria engravidado. Mas isso a dez anos atrás.

A conheci na frente do teatro Cena 1, quando saía de uma peça junto com uma de minhas namoradas da época. Catarina e sua família tinham um quiosque de sucos. Minha parceira estava com sede e me pediu que fossemos até lá para tomar um. Pedi de morango e levei minha parceira para sentar nas mesas ali expostas. Catarina tinha 17 anos. Sabia lidar com as frutas. Suas mãos agarravam os morangos com vontade dentro daquela bacia e os jogavam no liquidificador como se ela fosse a mulher mais poderosa do mundo. Aquilo me encantou. Bateu os morangos junto com água e pouco de açúcar. Colocou nos copos e quando foi nos alcançar, a fatalidade nos aproximou. Um menino passou correndo pela sua frente e ela travando seus passos fez com os copos virassem da bandeja molhando todo o seu corpo. Enlouqueci. Uma ninfeta toda ensopada de suco de morango! Já realizei várias fantasias com mulheres, mas essa até então nunca tinha realizado sabe-se lá o porquê. Corri para ajudá-la e nisso fiquei excitado. Ela cheirava a morango, estava molhada de morango e eu me vi no paraíso. Minha parceira percebeu a minha excitação, levantou-se e foi embora, pisando fundo. Eu não fui atrás. Muito pelo contrário, fiquei ali até Catarina fechar o Quiosque. Soltei todo o meu lado galanteador para conquistar aquela mulher e consegui-la levar para cama ainda naquela noite. Primeiro porque tinha que aproveitar enquanto ela ainda tinha resquícios de morangos em sua pele e segundo porque no dia seguinte tinha que tentar reconquistar a minha parceira que acabou indo embora do quiosque assim que viu eu enlouquecido pela ninfeta.

E não foi diferente, sou tão bom na conquista das mulheres que mesmo a menina virgem de 17 anos que mal me conhecia caiu nos meus encantos e aceitou conhecer minha cobertura de frente pro mar na Praia Brava. Ela ainda tinha cheiro de morangos quando comecei a beijá-la. Aquilo tudo me deu uma forte excitação e a rompi vigorosamente. Não me preocupei em tomar nenhum tipo de cuidado. Acabado o coito, tomei banho, ela também e a levei pra casa.

- “Nos falamos”, disse, para despistá-la das minhas intenções de não mais a procurar.

- “Aparece lá no quiosque para batermos um papo”, ela me disse com um sorriso.

- “Sim, apareço”.

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