quarta-feira, 6 de junho de 2007

A ciência é legitimada pela consciência humana

Everton Maciel

Como se constitui ou como se explica basicamente o fundamento das ciências? Essa é a questão que move parte do trabalho do filósofo Edmundo Husserl. Trata-se de uma tentativa de legitimar a ciência como um acontecimento do homem.

Em 1950 foi publicada “A Crise das Ciências Européias e a Fenomenologia Transcedental”, escrito entre 1935 e 1936. O ideal husserliano exprime-se pela determinação em dar consistência científica à filosofia e assim atingir as outras ciências, através de uma base sólida de racionalidade, como exige uma fundamentação rigorosa.

Husserl funda então a fenomenologia. Inicialmente desenvolveu uma ciência da experiência, chamando-a de “psicologia rigorosa descritiva”. Em seu texto “Investigações Lógicas”, Husserl procurou mostrar que há uma diferença de direito entre a psicologia e as ciências normativas puras, considerando que as leis lógicas não fundamentam a psicologia, pois considera o psíquico como um fenômeno e não como uma coisa física, palpável. Fenômeno, para ele, é consciência enquanto fluxo temporal de vivências, apresentando intencionalidade enquanto estrutura, ou seja, consciência de algo.

A fenomenologia procura examinar a experiência humana de forma rigorosa, por meio de uma ciência da experiência. Desta maneira, a reflexão se faz necessária, a fim de tornar possível observar as coisas tal como elas se manifestam em sua pureza original e descrevê-las. É a investigação daquilo que é genuinamente possível de ser descoberto e que esta potencialmente presente, mas nem sempre visto, através de procedimentos próprios e adequados. É o encontro com as coisas mesmas.

É a filosofia do inacabado, do devir, do movimento constante, onde o vivido aparece e é sempre ponto de partida para se chegar a algo. Para Husserl, a lógica, ou seja, a teoria das ciências, necessita também de uma fundamentação na sua própria essência de teoria. Fundamentar a lógica e fundamentar a filosofia são expressões equivalentes para este pensador. Ele acredita que este alicerce só será possível através da fenomenologia.

Justamente, neste campo, há uma efetiva legitimação das ciências. Em duas “Meditações Cartesianas”, Husserl definiu “a vida cotidiana, pelos seus fins verdadeiros e relativos, como a possibilidade de contentar-se com evidências e verdades relativas”. Portanto, conhece-se pelo conhecer, tendo em vista fundamentalmente o homem no processo. Um procedimento cientifico pode ser legitimado pela simples tentativa do cientista.

Husserl destaca ainda que “na evidência, no sentido mais vasto deste termo, temos a experiência de um ser e da sua maneira de ser; é portanto nela que o olhar do nosso espírito alcança a própria coisa. A contradição entre a nossa intenção e a coisa que nos mostra esta experiência produz a negativa da evidência ou evidência negativa, cujo conteúdo é falsidade evidente”.

Ele conclui seu discurso ao demonstrar que na vida pré-científica se revelam as ciências: “A ciência, no que a ela diz respeito, pretende verdades válidas uma vez por todas e para todos, definitivas, partindo de verificações novas e últimas, se de fato, como acaba por se convencer, a ciência não consegue edificar um sistema de verdades (absolutas), se deve permanentemente modificar as verdades adquiridas, obedecendo todavia à idéia de verdade absoluta, de verdade científica e se tende, através disso, pôr um horizonte infinito de aproximações que convergem todas para esta idéia”.

Biografia:

CHATELET, Françoise. História da Filosofia. vol. III, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1995

HUSSERL, Edmund. Meditações Cartesianas. Primeira Meditação

Nenhum comentário: