segunda-feira, 19 de março de 2007

Dois coelhos. Uma cajadada

Everton Maciel

Tremenda polêmica foi levantada nesse blog pelo jornalista Boris Casoy na entrevista de algumas semanas atrás. E-mail’s, mensagens pelo MSN, torpedos de celular e sinais de fumaça não pararam de chegar sobre o assunto. Para a infelicidade da nossa conta bancária, os amigos internautas só não fazem o natural de todo blog: comentar no espaço dedicado para os comentários!

Logo que o debate sobre a necessidade ou não de diploma especificamente na área de jornalismo foi levantada pelo consagrado jornalista Casoy, lembrei-me de outra polêmica carregada de eu-achismos e com pouco alicerce concreto e teórico para pesquisar, o título de “doutor”.

Afinal de contas, quem é doutor? Alguém que tem o título de doutorado em alguma universidade ou um médico, um advogado, um dentista, ou outro graduado ou especialista qualquer?
Adoro estudar História e não tive dificuldades para descobrir donde surgiu esse tratamento tão polêmico:

A primeira universidade criada no ocidente foi a Universidade de Paris. Ela surgiu como uma extensão da crescidinha Escola de Notre Dame. Isso no ano de 1200. Em 1233, foi criado o título de “mestre”. Em 1245, foi criado o título acadêmico de “doutor”. Em francês: “doctor”. Etimologicamente a palavra provém do latim “douto”, equivalente a um homem de sabedoria elevada. Fica a dica: O livro “Douta Ignorância”, de Nicolau de Cusa.

Como o Brasil é um país onde as coisas são feitas às avessas para beneficiar fulano ou sicrano, Getúlio Vargas, durante seu segundo governo, decretou que médicos e advogados deveriam ser tratados como “doutores”. Essa bobagem, foi sepultada com a constituição de 1988 que prevê direito de tratamento igual a todos os cidadãos do Estado. Nossa Carta Maior chama isso de “princípio da impessoalidade”. Está lá pra quem quiser pesquisar. Fácil de entender, né? O título nasceu na academia e deve ficar nela. Não importa o decreto, nem as bobagens que as categorias acéfalas publicam por aí. Doutor é quem tem doutorado. Não é um título social. É um título acadêmico.

E quanto a polêmica do Boris: afinal, jornalista é quem tem um diploma na parede? A resposta é igualmente simples: não! O jornalismo nasceu muito antes das escolas de jornalismo. Jornalista é, sim, um título social, não acadêmico como pregam os protecionistas desesperados que querem preservar suas profissões. Bulhufas são ditas pelos sindicatos e idiotas de plantão.

As escolas que formam jornalistas são muito bem vindas. Todas têm um papel importante que merece ser levado em conta. Mas a caixa do banco onde sou cliente não é uma jornalista simplesmente porque tem um diploma na parede da sala. Ela é caixa do banco. E vai continuar sendo caixa do banco. Diploma nenhum vai torná-la uma jornalista. Nunquinha.

6 comentários:

Anônimo disse...

Olá! Muito util o seu interesse pela nomatização profissional. Sugiro que mande esta proposição aos editores do dicionário aurelio porque conforme o pai dos burros:
:(ô). [Do lat. doctore.]
S. m.
1. Aquele que completou o doutorado (2).
2. Aquele que se diplomou numa universidade. [Cf. licenciado (4) e mestre (13).]
3. Médico, esculápio: 2
4. Homem muito douto; sábio; erudito.
5. Pej. Sabichão (4).
6. Teatr. Personagem-tipo da commedia dell'arte, que representa um membro de qualquer profissão satirizada, em especial a medicina e a advocacia.
7. Bras. Zool. V.
galo-branco (2).

u Doutor da Igreja.
1. Teólogo de grande autoridade.

u Doutor honoris causa.
1. Aquele que recebeu título universitário sem curso nem exame, como pura homenagem.


Inclusive poderia mandar a sua interpretação para o American
Heritage porque conforme tal fonte: DOCTOR
NOUN: 1. A person, especially a physician, dentist, or veterinarian, trained in the healing arts and licensed to practice. 2a. A person who has earned the highest academic degree awarded by a college or university in a specified discipline. b. A person awarded an honorary degree by a college or university. 3. abbr. Dr. Used as a title and form of address for a person holding the degree of doctor. 4. Roman Catholic Church An eminent theologian. 5. A practitioner of folk medicine or folk magic. 6. A rig or device contrived for remedying an emergency situation or for doing a special task. 7. Any of several brightly colored artificial flies used in fly fishing.

P.S. A proposito a universidade ocidental (européia) mais antiga é a de Bolonha fundada em 1088.
Deixo contigo então o pensamento de um doutor da igreja Tomas de Aquino conhecido como doutor angelico:
"Os pusilânimes são propensos à inveja pois, como se diz no livro de Jó, a inveja mata os pequenos. E isto com razão, pois o medíocre acha que a prosperidade de outro impede a sua: o que é próprio de almas pequenas." .

Sem Papel e Tinta disse...

A universidade de Bolonha foi considerada universidade em 1222, até então era apenas um "centro de estudos", contendo os cursos de Filosofia e Teologia. Com status de UNIVERSIDADE a primeira do Ocidente, foi a Universidade de Paris, sim.

Júnior Grings

Anônimo disse...

Bom... como todos viram, não discuti no texto o uso “coloquial, popular e generalizado” do tratamento “doutor”. Disse como, quando e porque ele surgiu e mostrei que a academia é o único lugar pertinente para tal tratamento. Resta aguardar que os famigerados médicos e advogados graduados em qualquer coisa se ponham em seu devido lugar: de médicos, advogados e assim por diante. Muitos dentre esses distintos profissionais já reconhecem que se chamados pelos nomes estão sendo tão bem tratados quanto se chamados por um título que não lhes cabe, necessariamente, o “doutos”. Doutor tem doutorado. Só. Quer ser doutor? Vai estudar.
ps.: no meu dicionário o verbete "anônimo" é sinônimo de covarde. Agora, também, de ignorante.

Anônimo disse...

Veja bem o que diz a enciclopedia britanica sobre a universidade mais antiga da europa :
http://www.britannica.com/ebc/article-9357635

Caro Everton quando voce fala de academia certamente deve estar falando da academia de musculação porque é a unica que voce jamais ira frequentar. É deveras muito interessante que aqueles que se propoem a ser vozes da "comunidade" não aguentem uma troca de ideias. Também com este dicionário que voce tem não é surpresa nenhuma.

Anônimo disse...

Mentir é o fim do debate.
Chamamos isso de falácia.
UM: nunca fiz uma proposta idiota dessas. Não minta. Meu trabalho no blog independe de meu trabalho em qualquer outro lugar. Nunca seria idiota para confundir as coisas.
DOIS: por falar em idiota, meu colega deixou claro o que Bolonha representa para a história do ocidente. A primeira UNIVERSIDADE foi a de Paris. O resto foi o resto. Algo semelhante àquilo que temos hoje. Coisas parecidas com esses cursos pro correspondência que andam formando pseudo-doutos Brasil à fora. Doutor continua sendo douto. Doutores continuam estudando e fazendo doutorado. Médico é médico. Nunca será doutor. Aliás, já que louvas tantos os britânicos. Saiba que médico já é chamado de "practitioner". (General practitioner. clínico geral). Os britânicos, aos poucos, estão corrigindo esse erro de tradução histórico. Os famigerados que continuem se famigerando. Nunca, nunquinha, serão doutos.

Anônimo disse...

Olha, já estava até desligado desta troca de idéias. Dizem, que é uma tarefa impossível lustrar um cagalhão, mas lendo a sua última resposta podemos fazer um esforço.
Vamos ao número UM: Se voce possui a disposição de escrever em um weblog (e isso é uma coisa boa), voce se propoe ou se apresenta como um interlocutor, voce deseja ser lido e talvez reconhecido. Isto é implícito, óbvio. Voce me chama de mentiroso e para mim não confundir com outros trabalhos que voce exerce. Como isto é possível se eu nem lhe conheço e nem sei o que voce faz da sua vida. A única coisa que observo, e isto foi o motivo de minha resposta, é um caso moderado de indigestão literária (vulgarmente conhecido como: eu tento mas o cérebro não acolhera as ideia), deixaremos en passant o complexo de inferioridade seria muito fácil.
Agora ao número DOIS: Fui pego de surpresa nesta parte, não entendo o que o seu colega fez de tão ruim para chama-lo de idiota: "por falar em idiota, meu colega deixou claro o que Bolonha representa para a história do ocidente." Enfim, deixo esta questão para voces resolverem. O que eu afirmei e continuo sustentando é que voce tem desconhecimento e também uma obstinada ignorância tanto em relação ao que se considera a universidade mais antiga. Novamente posto link para qualquer pessoa com entedimento mediano da língua inglesa verificar: http://www.answers.com/topic/list-of-oldest-universities-in-continuous-operation
Mas esta questão é bizantina. O que chama a atenção é sua incapacidade de entender e aceitar o significado coloquial e aceito da palavra "doutor", a menos que voce tenha patenteado a palavra e agora ela só significa o que voce deseja. Pronto agora eu sou dono da palavra, vê se cresce. Bem continuando com esta tripa a sua reclamação em relação "cursos de correspondecia" me parece um tanto elitista não? Agora voce quer ser a autoridade em qualidade de cursos. Afinal nem todo mundo tem a oportunidade de frequentar uma universidade de alto gabarito como a sua (ha ha..). General practitioner é o nosso trivial médico de familia, médico do PSF, ele continua a receber o respeito e a deferência de ser ser chamado 'doctor', não entendi teu ponto. Como vês se tiveres um mínimo de tirocínio vais compreender que meus argumentos são coerentes e sólidos, e quem esta sendo desonesto e mentiroso é você. Permita me encerrar minha mensagem com uma quadrinha popular:
"Nem da onça o urro
Nem do jacaré o esturro
Nada soa mais feio
Que mentira em boca de burro"