Esperando a morte chegar, David Hume, em sua autobiografia (My Own Live, 1777), reclamou sobre a tarefa ingrata de falar sobre si mesmo como uma das coisas mais pedantes e sem graça em meio a arte de viver. O filósofo nos ensinou que as vidas e obras inspiradoras precisam de biógrafos. Luis Rubira reinaugura a tarefa do biógrafo nacional com o livro “Vitor Ramil: nascer leva tempo”. Felizmente, a segunda edição do livro ganha luz em um novo momento de Pelotas. Um momento de retomada e reconstrução aos moldes do trabalho do antiquarista, como o próprio autor avisa fazer o texto progredir, sobre a vida de um dos maiores agentes artísticos do Rio Grande do Sul, Vitor Ramil.
Entendendo que as fronteiras também se movem, com as bandeiras, Rubira trabalha com uma narrativa inédita da literatura biográfica. Bom antiquário que é, o livro inicia pela tarefa arqueológica, resgatando as fontes que originaram a natureza musical de toda a família Ramil; transita pelas duas origens do nascer: primeiro a natural e, na sequência, a das escolhas. No caso de Vitor Ramil, respectivamente: a música e a literatura.
O trabalho do biógrafo não se restringe a ordem histórica e
cronológica, mas também tira pó, das cores da vida que são iluminadas, pela
segunda vez, como uma peça de aparência novinha, no antiquário. A vida e obra
do poeta de Satolep encontra espaço entre a dos grandes artistas da música
mundial, mas em um livro muitos degraus acima das “deshomenagens” biográficas
feitas às pressas por ghost writers. Rubira – talvez por admitir um trabalho
em construção – se coloca do lado dos grandes biógrafos, sem jogar purpurina e
elogios desmedidos pela história da peça que está restaurando e com respeito e
compromisso pelas margens da obra, as grandes influências de Vitor Ramil: João
da Cunha Vargas, Lopes Neto e até Bob Dylan (!!!) ocupam, cada um a seu modo, o
espaço de “terceira margem” e aprendemos que nascer leva um tempo que depende
de muitas margens!
Editora: Pubblicatto
2º edição
R$ 60
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