terça-feira, 16 de setembro de 2025

Vitor Ramil: nascer leva tempo

 Esperando a morte chegar, David Hume, em sua autobiografia (My Own Live, 1777), reclamou sobre a tarefa ingrata de falar sobre si mesmo como uma das coisas mais pedantes e sem graça em meio a arte de viver. O filósofo nos ensinou que as vidas e obras inspiradoras precisam de biógrafos. Luis Rubira reinaugura a tarefa do biógrafo nacional com o livro “Vitor Ramil: nascer leva tempo”. Felizmente, a segunda edição do livro ganha luz em um novo momento de Pelotas. Um momento de retomada e reconstrução aos moldes do trabalho do antiquarista, como o próprio autor avisa fazer o texto progredir, sobre a vida de um dos maiores agentes artísticos do Rio Grande do Sul, Vitor Ramil.


Entendendo que as fronteiras também se movem, com as bandeiras, Rubira trabalha com uma narrativa inédita da literatura biográfica. Bom antiquário que é, o livro inicia pela tarefa arqueológica, resgatando as fontes que originaram a natureza musical de toda a família Ramil; transita pelas duas origens do nascer: primeiro a natural e, na sequência, a das escolhas. No caso de Vitor Ramil, respectivamente: a música e a literatura.

O trabalho do biógrafo não se restringe a ordem histórica e cronológica, mas também tira pó, das cores da vida que são iluminadas, pela segunda vez, como uma peça de aparência novinha, no antiquário. A vida e obra do poeta de Satolep encontra espaço entre a dos grandes artistas da música mundial, mas em um livro muitos degraus acima das “deshomenagens” biográficas feitas às pressas por ghost writers. Rubira – talvez por admitir um trabalho em construção – se coloca do lado dos grandes biógrafos, sem jogar purpurina e elogios desmedidos pela história da peça que está restaurando e com respeito e compromisso pelas margens da obra, as grandes influências de Vitor Ramil: João da Cunha Vargas, Lopes Neto e até Bob Dylan (!!!) ocupam, cada um a seu modo, o espaço de “terceira margem” e aprendemos que nascer leva um tempo que depende de muitas margens!

Vamos torcer para que o livro ganhe novas edições, agregando novas obras de Ramil que tanto afagam o imaginário dos fãs. Assim como Délibáb, em um horizonte confuso, mas sereno e promissor, esta biografia é especial para aqueles que vivem em meio a estética do frio. Por definição, a geografia do sul do mundo tem uma estética musical, poética e literária muito própria. Nossa comparação é sempre com os vizinhos mais próximos, o calor das praias de Santa Cataria e as montanhas intransponíveis do Chile. Diferente deles, buscamos nossas casas para encontrar a proteção e o calor que nos faz bem. E talvez o professor Rubira tenha feito isso com a biografia de Ramil: nos deu o conforto de um antiquário, bem quentinho, para visitar no meio de um longo passeio, por um inverno frio e úmido. 

Editora: Pubblicatto

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2º edição

R$ 60

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