domingo, 10 de novembro de 2013

Franqueza de caráter: uma virtude moral

Se há um debate capaz de me deixar com as orelhas hasteadas é a polêmica grega das virtudes morais. Não entendo nada do assunto. Mas adoro ouvir pessoas que entendem de virtudes e vícios entre os gregos, por exemplo. Mesmo na idade média, a exposição pragmática das virtudes cardeais é tratada de forma brilhante por um monte de especialistas. Já adianto: eu não sou um desses especialistas.

Atualmente - oh, buraco onde nos metemos!! -, nosso poder de elogiar e criticar está resumido a "foda", "docarai" ou "merda", "porra". Somos absolutamente incompetentes para reconhecer tanto os vícios quanto as virtudes do nosso período. Por isso estou fazendo esse texto. Quero falar de uma virtude moral muito interessante e pouco desenvolvida: a franqueza de caráter.

Para começar, já aviso que minha posição a respeito disso é sexista. É notório que a capacidade das mulheres para conservar rancor as transforma em seres menos francos. Mesmo assim, a ausência generalizada de atitudes francas no mercado está tornando o convívio social insuportável inclusive entre os homens.

Obviamente, não estou me referindo a sinceridade. É uma confusão recorrente. Sinceridade é apenas um dos elementos que torna a franqueza de caráter algo possível de ser administrado pelo agente moral. Aqui, para fins práticos, não estou tratando de verbalizar tudo aquilo que se pensa a respeito do mundo e das pessoas. Refiro-me, ao trato direto de problemas de relacionamento, ou seja: franqueza é a sensibilidade de sermos honestos com os outros e nós mesmos, evitando agressões, mesmo quando existe a necessidade de criticar. Entenderam?

Funciona assim: você pode perfeitamente ser sincero sem ser franco. Basta usar sua sinceridade para criar problemas ao invés de resolvê-los.

Imagine uma cena hipotética. Você acorda e a casa foi bagunçada por uma festa promovida pelo seu colega de apartamento na noite anterior. Seu comportamento é:
a) tacar um terror para que ele arrume tudo o quanto antes;
b) fazer biquinho e mostrar o quanto você está chateado;
c) tirar uma foto dele dormindo de cueca bêbado na sala, ameaçar colocar no Feicibuqui se ele não arrumar a baderna e se divertir um pouco com a situação?

Caso você tenha achado a alternativa "c" interessante, não se apresse. Existe uma enorme diferença na capacidade das pessoas em saber qual é a melhor alternativa e, efetivamente, empregar o melhor comportamento para aquela situação. Não é possível emitir atestado de franqueza sem um comportamento repetitivo e insistente.

Resumindo: franqueza consiste em não guardar rancor; ser sincero e honesto consigo mesmo e com os outros; capacidade de resolver os problemas com hombridade e sem biquinho. Evidentemente, a soma das partes sempre será maior que o todo e, quando dou sorte de encontrar uma pessoa franca, me esforço elogiar esse tipo de comportamento.

Como deve ter dado para notar, escrevi esse texto para falar de situações bastante específicas: no geral, quando o agente moral, está diante de um problema e precisa resolvê-lo sem gerar dano aos envolvidos. Existem situações, onde o objetivo é a resolução dos problemas com a geração de dolo no inimigo. São situações tipificadas quando o agente moral e o agente objeto do problema não possuem intimidade ou, simplesmente, não há o interesse de manter uma convivência pacífica. Nos acostumamos a chamar isso de guerra. Nesses casos, o mais franco dos mortais pode arrumar uma briga de bar, dar uns tiros no cara que comeu sua mulher ou empurrar manco de escada.

Sem mais, meritíssimo.

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