segunda-feira, 3 de junho de 2013

Juventude mais perdida que azeitona em pão doce

Ser alguém é uma aspiração. Ser alguém que o seu Eu de uma realidade paralela admiraria é uma aspiração do jovem atual. Se puder ajudar o mundo com isso melhor, mas desde que ele tenha o devido reconhecimento. O senso de coletivo se perdeu, jovens não se aglomeram mais em prol do bem comum, no máximo eles montam pequenas e enxutas start ups para valorizarem o próprio passe como empreendedores visionários que um dia podem dominar o Vale do Silício. 

A tentativa de ser alguém fora da sua zona de conforto pode ser considerada um desafio hercúleo, uma afronta às forças de vontade menos determinadas e, quase que em cem por cento das vezes, uma constante agonia e interminável fonte de frustração. 

Um tenor da Ópera de Viena teria um enorme trabalho para ser ouvido como zagueiro e capitão, mesmo que de um time de várzea. Um ferreiro que consegue forjar mais de cento e cinquenta espadas, na mão, em um só dia, seria praticamente ignorado no simpósio internacional sobre estratégias avançadas de xadrez. 

E bem embaixo de nossos narizes, existe um lugar em que esse mundo de ser alguém e o medo de sair da área de segurança é constante. Brasília, uma das maiores rendas do País encontra-se dominada por pivetes de classe A gargalhada, vinte e cinco mais, que moram com os pais (mas juram que são independentes) e que vivem em um conflito superficial. Seus papais mandam em uma nação. Juntos, os fornecedores de mesada dessa molecada criada pela avó, provavelmente poderia levar a pátria à glória, ou ao caos completo. Bem certo que não fazem uma coisa nem outra, mas teriam pujança e influência para tal. 

Os rebentos juvenis, por sua vez, tomam esse poder como hereditário, e cospem verborragicamente regras sem contexto, que ouviram de algum pretenso intelectual / músico / artista influente quando moraram por 6 meses em Londres. 

Eles tentaram ser alguém onde é preciso ter algo a dizer para realmente ser alguém, e falharam miseravelmente. Então eles voltaram, para onde eles não precisam de muito esforço para ser alguém. 

Um misto de mediocridade, medo e de reconhecimento do que é bom. É disso que é formada uma pós-juventude perdida. Reconhecer algo incrível não faz da pessoa incrível, a não ser claro, que ela seja uma curadora, o que, podemos garantir, não é o caso da maioria dos palestrantes de baboseiras de plantão. 

Sempre com as mesmas pessoas para ouvir, sempre com as mesmas ladainhas a falar, keynote speakers e público precisam achar uma forma de distorcer o que estão ouvindo, para assim parecer sempre algo diferente, inovador e indispensável para o crescimento de suas vidas. 

Para tal, se empanturram de maconha e atolam seus narizes de pó para ninguém lhes tirar a razão, temperam suas línguas com ácido para descobrirem que suas ideias são muito loucas e vanguardistas e bebem hectolitros todos os dias para não pensarem que poderiam estar efetivamente fazendo algo, que poderiam ser indubitavelmente relevantes, se não estivessem amedrontados, com suas calças de marcas entre as pernas. O medo que eles sentem é proporcional ao sentimento de impunidade com que convivem. 

Podem falar a merda que for, fazer absolutamente nada, que é exatamente isso que a vida lhes toma: nada. Suas viagens continuam garantidas, suas quase overdoses continuam avizinhadas no próximo final de semana e feriado, e seus propósitos continuam ser alguém, mesmo que isso esteja acontecendo onde eles sempre serão ninguém.

Está assinado como Oscar Fingalson. Mas não sei quem escreveu. Copiei e colei do Notícias Populares "última edição", um suplemento encartado na Folha de São Paulo para vender o filme Faroeste Caboclo, inspirado na música de mesmo nome da Legião Urbana. Não é uma publicidade normal para um filme normal. É uma obra de arte do marketing moderno. O NP foi o melhor jornal sensacionalista já publicado desde o Velho Testamento. 

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