Acho que foi meu falecido pai que me ensinou: "charuto a gente compra quando está de mau humor e fuma quando está de bom humor". E foi assim que comecei a colecionar charutos.
A vida é uma constante de altos e baixos. Mas os altos de uns são mais baixos que os baixos de outros, então essa sentença idiota não quer dizer coisa nenhuma com algum sentido empírico.
O processo de conclusão de alguma coisa é sempre um evento antipático quando se é inconclusivo com relação a tudo na vida. Assim que terminei a dissertação de mestrado e comecei a revisão com a ajuda de alguns corretores (até os corretores precisam de correção), me veio a pergunta mais cretina do mundo na cabeça: "e agora, Tereza?" Volto a ser jornalista ou me dedico a tentar ser professor universitário.
Uma vez, numa entrevista de emprego, o recrutador me perguntou como eu "escolhi minha profissão". Se não me engano, era uma vaga para trabalhar em alguma rádio. A pergunta do recrutador não fazia sentido pra mim. Ele tinha um questionário padrão, feito para entrevistar todos os candidatos. Mesmo tendo explicado para ele que não quis seguir na faculdade de jornalismo, ele quis saber como eu "escolhi minha profissão". Quem "escolhe" sua profissão são pessoas diferentes de mim. Nem melhores. Nem piores. Só diferentes de mim. "Escolher" para o questionário que o entrevistador estava querendo dar conta de responder e ir para casa cuidar das coisas importantes da sua vida, significa "marcar", entre centenas de alternativas, algo no espaço "curso pretendido" de alguma universidade. E eu, nunca na minha vida, fiz uma escolha dessas. Muito menos tive uma variedade tão grande de alternativas na minha frente.
Com certeza, há quem escolha ser jornalista, radialista ou engenheiro da Nasa. Mas, há também aqueles que são escolhidos pela profissão que exercem. Se eu fosse "escolher" ser alguma coisa na vida, escolheria ser bon vivant. É muito mais razoável admitir que se quer ser rico do que escolher ser jornalista: entre muitas alternativas, uma escolha, convenhamos, perfeitamente idiota, levando em conta a folha de pagamento de um jornalista. Se eu fosse escolher alguma coisa, escolheria algo que me deixasse rico. Óbvio.
Assim que a lei permitiu, fui "menor aprendiz". Com 15 anos de idade, operava áudio na rádio. Não por escolha, mas porque a única coisa útil que eu sabia fazer naquela época era ser operador de som em uma rádio. Eu gostava de fazer aquilo. Era um bom jeito de ficar longe de encrencas na vila e ganhar um salário mínimo. Jornal e microfone é o caminho natural de quem começa assim. Eu poderia ter tentado "escolher" outra coisa, enquanto havia tempo. Mas não fiz. Já havia sido escolhido. Depois de seis meses, o aborto é praticamente impossível.
Mais tarde, ainda escravo da mídia, escolhi fazer curso universitário, sim. Então, escolhi de verdade. Fiz Filosofia pelo meu interesse nos assuntos ligados à ética e filosofia política. Agora, terminei, por escolha, claro, de fazer a dissertação de mestrado. Se houvesse muitas escolhas, não voltaria para o jornalismo. Mas "voltar", aqui, também é um verbo inadequado, porque nunca abandonei o meio.
Enfim, a vida é feita de escolhas e não-escolhas. Se eu pudesse, escolheria ser arquibilhardário, não jornalista! Tive que me contentar com o jornalismo que me escolheu antes que eu tivesse chance de dizer não. O resultado é uma coleção de charutos que mofarão antes de serem fumados, um buraco no estômago com menos de 30 anos de idade e muita coisa para se fazer numa segunda-feira.
Boa semana a todos!
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