terça-feira, 25 de setembro de 2012

Ela precisava estar ali. E ficará ali para sempre

Daqui a pouco vai ter gente dizendo que sou algum implicante com o funcionalismo público e sua pouco instruída corja de acomodados. Estarão completamente certos. O principal governante desse país é a burocracia. Quando o cidadão não é impedido de ter acesso ao mecanismo diretamente por um funcionário público e sua completa incapacidade de raciocinar quem está diante dele é uma empresa que recebeu a concessão do governo para exercer uma atividade pública. Geralmente, é a mesma coisa ou, para meu azar, um pouco pior.

Hoje, fui renovar a minha Carteira Nacional de Habilitação. Só me dirigi ao guichê do centro de formação de condutores depois de telefonar para um aqui perto de casa para saber o quê eu precisava levar para reabilitar meu documento, prestes a vencer. Ouvi a frase mais repetida pelos burocratas: "Identidade e comprovante de residência". Sequer se trata de uma frase completa, afinal, seria muito difícil para o nível mental de quem trabalha nesses lugares. Cheguei lá com os documentos, peguei a senha, esperei na fila e fui atendido por um dinossauro que reconhecia a palavra Olivetti a 800km de distância. Ela olhou para meus documentos, verificou minha carteira de identidade para saber se estava sem adulterações e pegou minha conta de energia elétrica. A conta tinha vencimento no mês oito, mas estamos no mês nove. Ouvi a voz irritante pela primeira vez, levando em conta que meu "boa tarde" era algo difícil demais para se responder: "Precisa ser um comprovante de residência atual". Respondi: "É atual. Do mês passado". "Precisa ser dos últimos 30 dias. É que o Detran ezegê", retrucou com erro na pronúncia do verbo exigir e tudo que tinha direito. Perguntei para a infeliz se poderia ser uma segunda via. Ela disse que tudo bem, contanto que fosse atual. Perguntei se ela não poderia entrar no site da companhia de energia elétrica e imprimir a segunda via para mim. Coisa simples, tendo em vista que sei o número da instalação que estava disposto na conta que eu tinha em mãos. "Não prestamos esse serviço". Expliquei que não era um serviço. Era um favor, tendo em vista que se tratava do procedimento mais simples do mundo para alguém nas condições dela: com uma simples impressora e um computador ligado a internet. Quando notei a mera falta de vontade, já fui me levantando. Ao passo que a jararaca miserável abria a boca para falar: "Se eu fizer pra um, vou ter que fazer pra todo mundo".

"Lógico! Evidente! Claro, sua filha de um ganso vesgo! Fará para todo mundo e aumentará o volume de trabalho nessa sua merda de empresa, aumentando lucros e, quem sabe um dia, tendo a oportunidade de comprar o diploma do ensino fundamental em algum lugar pago!", pensei.

Mas não disse isso tudo. Limitei minha existência a levantar da cadeira e soltar um sonoro: "Espero que tenha um péssimo dia de trabalho e morra de câncer".

Como já estava por ali, descobri outro CFC, a umas cinco quadras de distância. O cara olhou para meu comprovante de residência, e o que ele fez? Entrou no site da empresa de energia elétrica para emitir uma segunda via do comprovante mais atualizado disponível lá! Sem eu falar nada. Sem eu pedir nada. Sem eu perguntar nada. Ele simplesmente fez!

Agradeci com um sorriso e o cara me disse que é um transtorno normal. "É até mais rápido imprimir a segunda via do que fazer cópia da original", explicou. Podia ser mais simples? Muito obrigado por existir, velho.



***

CFC para se manter afastado Pelotas, RS: diante do Banco do Brasil na rua Lobo da Costa.
CFC que usa o cérebro, mesma localidade: rua Marechal Deodoro, próximo a rua Voluntários da Pátria.


 

5 comentários:

Anônimo disse...

Vc está certo, certíssimo em suas reclamações sobre o funcionalismo público no país. Porém, acredito que está muito mal humorado. Um pouco de leveza ajuda a suportar essas barbaridades diárias sem desenvolver um par de tumores. Tem feito sexo?

Anônimo disse...

E corrija, se desejar, o "daqui HÁ pouco", no início do texto.
Gosto de seus textos - e me parece que você parece o Daniel Rossen do Grizzly Bear. Será? -. Abraços.

Anônimo disse...

Por último: que fim levou aquele macaquinho que apareceu aqui numa foto contigo?

Everton Maciel disse...

o macaco segue sendo tratado pelos profissionais responsáveis e irá para um centro que cuida de primatas assim que possível;

eu não sei quem é rossen.

Anônimo disse...

Que bom que o macaquinho está bem.
Me agrada esse seu jeito carrancudo meio forjadinho (ao que me parece). Escreva mais. Escreva mais no pdh também. Até.