domingo, 31 de janeiro de 2010

O jeito mais estúpido possível

Everton Maciel e Sidnei Pestano

“No Brasil, nada é tão ruim que não possa ser piorado”, provérbio argentino

Dentre todos os fiascos educacionais dos últimos 510 anos (e não são poucos), não tenho dúvida do que o Sistema de Seleção Unificado (Sisu) é um dos mais inacreditáveis. Trata-se do seguinte: o candidato à universidade faz o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e senta atrás de um computador para “jogar” com sua nota.

O Sisu permite que qualquer estudante coloque seu nome à disposição de qualquer universidade do país que utiliza apenas o Enem como exame de seleção. Quais os critérios? Apenas o resultado do exame? Claro que não. O principal critério é um computador com um processador excelente e uma internet com vários megas de velocidade.

Pensando em um tipo de democratização impossível de ser gerenciada, o Governo Federal conseguiu elaborar uma plataforma onde, a qualquer momento, o candidato pode inserir e retirar seu nome da concorrência em qualquer uma das vagas que pretende disputar. Desta forma, ele pode estar entre os primeiros colocados de um curso em um determinado momento, mas, assim que novos candidatos surgirem, corre o risco de ficar fora da seleção.

Não são necessárias maiores explicações. Trata-se de um entra e saí em universidades e cursos. Por exemplo, o candidato pode não ter nota suficiente para cursar Medicina na UFPR, mas pode se candidatar, assim que entender, a uma vaga no mesmo curso da UFPel. Ou, ainda, pode alterar seu curso para um menos concorrido em outra instituição ou na própria UFPR. Logo que alguns colegas se sentirem pressionados e desistirem da cadeira, o candidato pode se reposicionar na vaga inicial! Fantástico, né?!

Qualquer menor mental, raciocinando minimamente, consegue compreender que um sistema tão débil favorece candidatos com condições de passar horas diante de um computador, gerenciando sua nota da melhor forma possível. Sem falar, na insanidade que será patrocinada nas últimas horas antes da chamada definitiva com os resultados das centenas de concursos. Nesta sexta-feira, ainda sem acontecer sequer a primeira chamada do Siso, o site já estava em manutenção, criando transtorno para milhares de estudantes.

Boquiabertos, ficamos imaginando o que passou pela cabeça de uma comissão de especialistas paga para pensar um sistema tão excludente e autorregulatório.

O velho vestibular precisava ser revisto? Com toda certeza. Mas, como diz o ditado, nada é tão ruim que não possa ser piorado. Agora, teremos uma debandada ainda maior de estudantes das regiões mais ricas do país rumo aos cursos mais concorridos de todo território nacional. Algo tão boçal só poderia ter sido imaginado por um governo formado por bestas pseudo-intelectuais. Em um país com dimensões continentais e regiões sócio-economicamente tão diferentes, unificar o sistema de ingresso no ensino superior é ausência de sobriedade mental.

Esse é o primeiro ano em que a aberração está funcionando. São 51 instituições utilizando o Enem como único critério de seleção para suas quase 48 mil vagas. Esperamos que os irresponsáveis por essa cretinice revejam essa seleção urgentemente. Do contrário, aguardamos uma morte lenta e dolorida.

2 comentários:

Anônimo disse...

É... Qualquer menor mental, raciocinando minimamente, consegue compreender que se trata de um blog criado por um pseudo jornalista influenciado por RBS, BBB e novela das 8:00 que preenche o vazio da net com o puro vacuo.

Anônimo disse...

Olá pessoal. Li o seu artigo, mas não concordo com a opnião de vocês.Não sou besta de aceitar completamente o Sisu, acho que o sistema tem falhas e deve ser melhorado e não rejeitado.Falhas (como: sair o gabarito do ENEM antes da prova, e poucas Universidades aderirem ao Sisu) devem ser averiguadas. Agora, o sistema tem as suas vantangens. Creio que democratiza o Ensino superior, no sentido do estudante poder concorrer em qualquer Universidade de todo Brasil.
É claro que ocorrerá a "jogatina" com a nota. Se um estudante não tem a média X para o curso Y, por que privar ele de concorrer em outra Universidade com a sua nota do ENEM?.
Creio que o sistema irá funcionar. Prefiro isto, do que o "regionalismo" do vestibular. Fica a minha opnião. Abraço ao leitores.

Registro: Em Portugal o sistema de seleção funciona assim e em outros países da Europa também.

Lucas D. Silva