sábado, 6 de junho de 2009

Administrar o cooperativismo

Jonas Diogo da Silva, de Horizontina

As cooperativas estão fortemente presentes na vida econômica e social de muitas das comunidades gaúchas e brasileiras. O cooperativismo foi para algumas destas comunidades a única forma encontrada para se organizar economicamente. Cooperativismo vem da palavra cooperar, que significa unir e coordenar os meios e os esforços de cada indivíduo para realização de atividade comum, visando alcançar um resultado procurado por todos. Em outras palavras é a união de forças para alcançar um objetivo comum. É, ao mesmo tempo, a convergência de objetivos que geralmente provem de uma necessidade igualmente comum. Assim sendo, arrisco dizer que, uma organização cooperativa é uma espécie de comunidade.

Inspirado pelo Dia Internacional do Cooperativismo comemorado sempre no primeiro sábado do mês de junho de cada ano decidi escrever algo sobre está importante e fascinante forma de organização econômica e social. Não se tratar de um texto escrito a partir de estudos exaustivos sobre tema, muito menos de nenhum constructo teórico sobre gestão de cooperativas. Apenas vou falar um pouco sobre os desafios da gestão de cooperativas hoje a partir das experiências que tive na área, do que vejo em alguns dos meus trabalhos acadêmicos e no contato com cooperativas gaúchas.

Antes vale lembrar que as cooperativas estão estruturadas em representações em suas diferentes esferas. A Aliança Cooperativa Internacional (ACI), com sede em Genebra, na Suíça é o órgão de representação em nível de mundo. Na America Latina o órgão máximo é a Organização das Cooperativas da America (OCA), fundada no Uruguai e atualmente com sede em Bogotá, na Colômbia. A Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) com sede em Brasília/DF é a organização nacional. E nos estados está estruturado em Organizações Estaduais de Cooperativas, no caso do Rio Grande do Sul, a entidade é a Ocergs, com sede em Porto Alegre.

As cooperativas são classificadas ainda como singulares ou centrais. As singulares são as convencionas formadas por no mínimo 20 pessoas. Como exemplo, podemos citar a Cooperativa Agropecuária Alto Uruguai (Cotrimaio), Agropecuária Cooperativa de Panambi (Cotripal), etc. Já as cooperativas centrais são formadas por no mínimo três cooperativas e são constituídas para representar suas cooperadas tanto econômica como politicamente. Exemples: Cooperativa Central Gaucha Ltda. (CCGL), Cooperativa Central do Oeste Catarinense (Aurora), etc. Todas elas com seus desafios de gestão.

Inicio falando da importância de se administrar. A sobrevivência de muitas organizações cooperativas – assim como as demais - depende de seu poder competitivo e de adaptação às mudanças constantes. Para que isso aconteça, faz-se necessário a adoção de práticas gerenciais coerentes com a realidade do ambiente em que está inserido. Conhecer a organização cooperativa, suas características internas, o sistema ao qual ela faz parte, ter clareza dos princípios cooperativistas, é fundamental para uma boa gestão. Os dirigentes eleitos e executivos contratados devem ter a consciência de que a organização é, ao mesmo tempo, uma associação de pessoas e uma empresa. Isso implica em conhecer alguns fundamentos importantes: 1º os membros associados são iguais; 2º existe uma regra que regula a elação entre os membros e a cooperativa; 3º os resultados devem ser partilhados; e 4º a cooperativa tem um caráter inalienável.

Para uma boa gestão de cooperativa é importante conhecer o ambiente econômico e as variáveis que incidem sobre a organização. A gestão não pode estar voltada exclusivamente para dentro, sob pena de criar um circulo vicioso onde se atua para “apagar incêndios”. Conhecer o ambiente permite que o gestor considere as variáveis implicantes sobre a organização e atue para neutralizar os efeitos negativos e maximizar os efeitos positivos. É preciso estar sempre atento as mudanças para se adequar a elas e criar condições para que as transformações necessárias aconteçam fazendo com que a organização evolua e atenda aos anseios dos seus cooperados, clientes e colaboradores.

Vale lembrar ainda que as cooperativas precisam tomar cuidado para não transformar o que é moderno em gestão, em simples modismo. Isso é prejudicial a cooperativa e geralmente é proveniente de iniciativas de quem tem pouco domínio sobre as técnicas de gestão. Algumas cooperativas caem numa armadilha ao tentar trabalhar com questões como a inovação. É preciso ter cuidado para não praticar um “inovar por inovar”, sem que isso tenha efeitos positivos para a organização. É preciso entender que, em muitos casos, inovar é apenas fazer do jeito simples e alcançar resultado.

Muitos desafios estão presentes na gestão de cooperativas. Os dirigentes devem buscar incorporar as técnicas de gestão mais atuais sempre respeitando e estimulando o exercício dos princípios cooperativos. É preciso reconhecer que o fato de uma organização estar formalizada como cooperativa não necessariamente significa dizer que ela está sustentada sobre os preceitos cooperativistas. Isso ocorre por razões culturais. Mesmo assim, essa condição não dá ao gestor – eleito ou contratado - o direito de desconsiderar os fundamentos básicos de uma cooperativa.

A missão de um gestor em uma cooperativa é administrá-la como negócio. Entretanto, também lhe cabe o dever de estimular a prática sadia da participação dos associados na vida cotidiana da cooperativa. Temos excelentes experiências na área, com cooperativas extremamente bem administradas. Porém, precisamos reconhecer que em muito precisamos avançar no sentido de melhor administrar as cooperativas e o cooperativismo.

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