segunda-feira, 9 de março de 2009

O pato entende das coisas

Everton Maciel

Antes da minha avó materna morrer, piedosamente, pensando que logo estaria no céu - uma recompensa por ter sido uma cristã devota -, havia no quintal da casa dela um forno. Era um desses fornos feitos com pedras e, claro, só funcionava movido à lenha. O dito forno era muito pequeno. Foi projetado pelo meu falecido avô com o objetivo de apenas assar roscas de polvilho. Uma delícia! Mas, quando a minha avó queria utilizar o forno para outras tarefas culinárias, encontrava certas dificuldades. Então, os 12 filhos dela sempre a viram fazer malabarismo no natal para assar um pato. O animal era maior que a altura da porta do forno. Então, minha avó ficava obrigada a cortar o ex-pato ao meio. Assim, ele cabia dentro do orifício facilmente.

O forno ficou lá, no mesmo lugar, durante anos. Até aí tudo bem. O detalhe é que minha avó morreu e o forno foi esquecido. Mesmo assim, até hoje, as filhas dela ainda cortam o tal pato natalino ao meio. Mesmo dispondo de fornos elétricos, maiores e mais modernos!

Quando perguntei a minha mãe o motivo do procedimento envolvendo a faca e o corte que era feito, separando o pato em duas partes, ouvi: “Não sei. Sei que sempre foi assim”.

Resumindo: minha mãe, junto com todas as suas irmãs, também, pensa que morrerá e excursionará ao céu, sem escala. Por quê? Não sei. Sei que sempre foi assim.
Acho que o pobre pato é o personagem mais razoável dessa história toda.

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