Dias atrás, um conhecido me parou na rua e disparou: “Everton, tu que estudas Filosofia...” - ele sorria.
Sempre que a conversa começa com essa maldita lembrança, eu penso: “Lá vem...”.
O dinossauro urbano continuou: “Acreditas em alma?” - ainda com o miserável sorriso na boca. “Sim, porque olha essa foto...” - ele apontava, já sem o sorriso, para o cadáver das cinco meninas palestinas mortas por uma investida aérea de Israel. A foto estampada na revista Veja, que ele segurava na mão. “Se existe alma, elas devem estar melhor agora”.
Suspirei e parei a conversa.
“Calma” – supliquei. “Defina ‘alma', por favor”.
“Ah, ‘alma’ é ‘alma’” - retrucou ele, novamente com o sorriso.
“Bom” - comecei. “Se ‘alma’ é ‘alma’, não só acredito, mas conheço a Alma. A Alma Backs. Trata-se de uma velha gorda e com sérios problemas de osteoporose. Mora lá perto da casa da minha finada vovozinha em Campina das Missões. A Alma é a própria personificação da desgraça. O marido da coitada morreu atropelado por uma carroça. O filho mais velho se enforcou num parreiral de uvas. A filha era lésbica e, no interior, isso é anomalia. Está internada, para atender um pedido do padre local. De tristeza, a Alma Backs tentou se afogar num poço - desses que têm no fundo das casas no interior. Só que não calculou bem a largura do seu corpo pesado e o diâmetro do poço. Ficou entalada. Hoje, a Alma vive numa cama, lê Augusto Cury e toma Prozac”.
“Ta. Esquece...” – pediu meu conhecido, sem o menor vestígio daquele sorriso.
Sempre que a conversa começa com essa maldita lembrança, eu penso: “Lá vem...”.
O dinossauro urbano continuou: “Acreditas em alma?” - ainda com o miserável sorriso na boca. “Sim, porque olha essa foto...” - ele apontava, já sem o sorriso, para o cadáver das cinco meninas palestinas mortas por uma investida aérea de Israel. A foto estampada na revista Veja, que ele segurava na mão. “Se existe alma, elas devem estar melhor agora”.
Suspirei e parei a conversa.
“Calma” – supliquei. “Defina ‘alma', por favor”.
“Ah, ‘alma’ é ‘alma’” - retrucou ele, novamente com o sorriso.
“Bom” - comecei. “Se ‘alma’ é ‘alma’, não só acredito, mas conheço a Alma. A Alma Backs. Trata-se de uma velha gorda e com sérios problemas de osteoporose. Mora lá perto da casa da minha finada vovozinha em Campina das Missões. A Alma é a própria personificação da desgraça. O marido da coitada morreu atropelado por uma carroça. O filho mais velho se enforcou num parreiral de uvas. A filha era lésbica e, no interior, isso é anomalia. Está internada, para atender um pedido do padre local. De tristeza, a Alma Backs tentou se afogar num poço - desses que têm no fundo das casas no interior. Só que não calculou bem a largura do seu corpo pesado e o diâmetro do poço. Ficou entalada. Hoje, a Alma vive numa cama, lê Augusto Cury e toma Prozac”.
“Ta. Esquece...” – pediu meu conhecido, sem o menor vestígio daquele sorriso.
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