quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A boa morte

Juca Fortes, poeta do Capeta e homem das polêmicas

“Mar adentro”’ é um filme sobre o polêmico tema da eutanásia. O roteiro apresenta um tetraplégico, Ramón Sampedro (Javier Bardem), que busca na justiça o direito de cometer seu último ato.

O espectador se depara com um herói que não sai de uma cama. Um herói que decidiu morrer, que não salvará ninguém e fará o que todos deveriam ter o direito de fazer. O filme mostra todos os tipos de idéias dos que não apóiam a última minha afirmação.

A ficção virou história real. E o fato real? O fato real é crime em diversos países.

Desde 1999, a Swiss-based Dignitas euthanasia organisation já acompanhou mais de 700 mortes assistidas. A Suíça é o único país que permite a eutanásia para estrangeiros. Cerca de 1800 pessoas foram eutanasiadas na Suíça no ano de 2007. O número pavoroso fez com que o governo passasse a ver com mais rigidez a ação destas organizações no chamado turismo da morre. A Dignitas cobra três mil Euros pelo “serviço”.

O suicídio assistido ainda é um dos temas mais controversos com os quais a humanidade tem se ocupado. Inúmeras obras de arte abordam o assunto. Na noite de desta quarta-feira, estréia no canal inglês Sky Real Lives o documentário canadense "Right to die?". A reportagem, que não tem dada para ser apresentada no Brasil, mostra a trajetória de Craig Ewert, um professor universitário de 57 anos, na sua decisão de cometer a eutanásia.

A realidade de pessoas que levam uma vida vegetativa ou que estão desenganadas pela medicina e sofrem diariamente as dores de uma doença deve ser levada em conta. A questão é que quando o governo suíço começa a não ter mais o controle da ação de organizações como a Dignas é possível se criar um comércio do suicídio. O documentário, na sua melhor intenção, tenta abrir os olhos do espectador para outra realidade e incitar seu senso crítico. John Zaritsky, diretor e produtor de "Right to Die?", afirma que quer um “filme controverso para que as pessoas debatam fortemente”.

Muitos continuarão condenando o suicídio, pelas mais diversas razões. A morte humana não é simplesmente normal, e inevitável. Cada humano que morre gera uma discussão moral em torno de si mesmo. Nenhuma eutanásia é caso resolvido. Só tenho uma lembrança, levantada pelo filósofo utilitarista Peter Singer: “Direito a vida, não significa dever a ela”. O sofrimento das pessoas precisa ser levado em consideração. Ainda não chegamos nessa etapa de evolução cultural.


Saiba mais sobre o documentário "Right to Die?"

Um comentário:

Sem Papel e Tinta disse...

Aqui do Tocantins consigo ficar entorpecido pelos teus textos Juca. abração para todos aí