segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Quer entrar no mercado das palestras? Simples: cobre para ouvir

Everton Maciel, de Pelotas

Existem vários tipos de palestrantes. Sugiro aos amigos (e até aos inimigos) do Capeta que se afastem de todos. Claro que não podemos confundir o palestrante profissional com um conferencista ocasional. O conferencista pesquisa, trabalha e, quando convidado, transmite para o público suas experiências. Mas eu peço cuidado é com os palestrantes profissionais. Eles são víboras do positivismo que se arrastam em meio às frases feitas e às falácias bem-humoradas.

Cem por certo dos palestrantes que estão na praça trabalham com o mesmo tema: motivação. Depois disso, seguem as truculentas variações: motivações e vendas; motivação e desempenho; motivação e sucesso; e, por fim, motivação e lucros, etc...

A motivação nunca tem a ver com melhores salários e melhores condições de trabalho. Claro que um palestrante que vendesse uma conferência dessas morreria de fome.

“Oi, sou palestrante, especialista em treinamento de pessoal, e vim até aqui para oferecer ao senhor a oportunidade de levar aos seus funcionários uma palestra com o tema “Deixe de ser alienado e explorado pela sua empresa”.

Não dá.

Outro mercado dos palestrantes é a auto-ajuda. É um mercado mais fácil ainda. Ninguém precisa de conceitos sólidos. Como falam para as massas, eles não se importam com um discurso formal e lógico: qualquer coisa que pareça inteligente serve. Tudo que um palestrante fala não passa de pantomima, teatro ludibriante. O discurso de um palestrante é um slide, invertido, para facilitar a compreensão do seu principal ouvinte: o ignorante médio, que não lê, com algumas pratas no bolso. O Brasil, definitivamente, é um bom mercado para os palestrantes. Duvido que algo semelhante tenha dado tão certo, em outra parte do mundo.

Depois de muito gastar meus fósforos ouvindo palestras. Minhas sugestões são simples. Pagar por uma palestra: jamais. Ter que assistir uma palestra patrocinada pela empresa: só ser for um excelente negócio.

Eu tenho a solução para os palestrantes escabrosos contratados pela sua empresa: a pergunta “quanto eu ganho com isso?” Mas atenção! Sem confusão: a pergunta é “quanto eu ganho com isso?” e não “o que eu ganho com isso?” Se houver esse deslize, você acabará com uma resposta feita, como: “será bom para seu aperfeiçoamento profissional”. Ou, se tiver muita sorte, vai faturar um almoço em algum restaurante barato. É isso. Acabou. O palestrante falou um monte de bobagens, você ouviu, o patrão pagou e ele foi embora.

Se ele cobra para falar bobagem, cobre dele para fornecer os seus ouvidos como penico. Puxe o boçal pela maga, antes da palestra começar, passe seu preço e, do contrário, ameace fazer perguntas sobre livros que ele não leu, coisas que ele não fez e experiências que ele não teve. Sugiro cinco por cento dos honorários totais dele.

Existem vários tipos de palestrantes. Mas todo palestrante é igual: não sabe de absolutamente nada.

Repito: professor não é palestrante. Educação e aperfeiçoamento profissional são coisas sérias! Procure instituições com credibilidade na praça, com certificados reconhecidos e não se estresse.

Mas, claro, desconfie de todo curso montado por uma banca de palestrantes.

Quem sabe, faz; quem não sabe, ministra palestras para "ensinar".

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