terça-feira, 1 de julho de 2008

“Realidade e imaginação se completam”

Entrevista: David Coimbra

Se um dia o globo terrestre parar de rodar, nós, homens, continuaremos pensando nas mesmas coisas: mulheres corpulentas, piadas de gosto duvidoso e futebol. Pronto. Não há uma longa lista de opções à disposição da mente. A diferença entre o talento e a mediocridade acaba se estabelecendo nos desdobramentos entre esses temas, simplesmente, complexos. Justamente nesse nicho circula o pensamento de um dos mais destacados jornalistas gaúchos dos últimos anos.

David Coimbra divide seu tempo entre a redação do Zero Hora, o compromisso com a TV COM e os livros. É autor de oito livros, entre eles “Canibais: Paixão e Morte na Rua do Arvoredo”, um dos maiores romances do jornalismo literário na América-latina, e o recente "Jogo de Damas".

Everton Maciel

Blog do Capeta – Seu trabalho pode ser definido como “urbano”?
David Coimbra
– Olha, acho que sim. Porque eu trato de assuntos que têm a ver com o meu cotidiano. E, como ele se passa, quase sempre, nas cidades, é uma boa definição.

Capeta – Você é cronista, mas não pára de assinar reportagens. Ser jornalista é ser repórter pro resto da vida?
Coimbra
– Sim! Eu sempre digo que a atividade que mais gosto, que mais me dá prazer, é a atividade de repórter. Quando eu posso sair da redação, fazer coberturas como essa que fiz do Pan, ou Copa do Mundo, ou o enterro do Brisola, por exemplo e a eleição presidencial, que eu fiz a pouco também. Gosto muito de fazer reportagem, isso me realiza muito. Alguns dos meus livros – a maioria – foram grandes reportagens.

Capeta - Tu tens reposta do teu trabalho com o público feminino. ?Se sim, alguma dessas respostas já se materializou em bofetada?
Coimbra
– (Risos) Bofetada não! Pelo contrário: elas gostam. Acho que a maioria dos meus leitores são mulheres. As mulheres, pelo menos, dão mais retorno do que os homens. Elas mandam mais e-mails, ligam, manifestam-se, falam contigo na rua. Tenho muito retorno das mulheres, e elas gostam. Claro que, no início, elas ficavam mais incomodadas. Depois, elas entenderam que era provocação ou, então, eu estava brincando, fazendo uma ironia, ou jogando com os sentimentos delas. Daí, elas entendem e se divertem com isso.

Capeta – E o mercado editorial gaúcho e brasileiro?
Coimbra
– Claro que no Brasil existe pouca leitura de livros, né? Mas, aqui, no Rio Grande do Sul, existe um mercado próprio. Por incrível que pareça, existe. A LP&M – que é disparada a melhor editora do Rio Grande do Sul. Uma das da maiores do Brasil – propicia muito isso, porque ela conseguiu construir uma rede de distribuição muito boa, sobretudo com esses livros de bolso. E no Brasil todo! Eu já recebi gente que leu meus livros em Goiás, Brasília, Recife, Manaus... gente falando que compra meus livros lá! E mais: compra-se em qualquer parte, não só na livraria. Tem na farmácia, no supermercado... com valores mais baratos. Isso tudo facilita. Tem uma coleção de autores clássicos lançada por R$6. Dá duas cervejas! Outra coisa: o leitor brasileiro não tem o hábito de entrar numa livraria pra comprar. Então, quando ele está num supermercado, vê, se interessa, daí pode comprar.

Capeta – Mas tem escritor que é metido a gostoso e que não quer ver os livros em pocket...
Coimbra
– Olha, vou dizer uma coisa: eu faço questão de lançar meus livros em pocket. Vou lançar mais dois livros. Um deles nem vai ter esse tamanho padrão: vai sair de cara em pocket. O outro, depois da primeira edição – espero que venham outras edições –, quero que o Ivan (Pinheiro Machado, da Lp&M) lance em pocket. É muito mais acessível muito mais fácil de atingir o público.

Capeta – Qual a coisa mais importante da realidade ou da imaginação?
Coimbra
– A realidade e a imaginação se complementam, né? A gente vê uma coisa que está acontecendo e imagina o desfecho. Ou imagina alguma coisa e a realidade completa aquilo. Então, resta ficar atento tanto às idéias, quanto à realidade, pra poder contar isso depois.

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Para quem quer ler outras entrevistas:
O Capeta já ouviu os jornalistas Tulio Milman, Giovani Grisotti, Ricardo Noblat, Eliane Brum e Broris Casoy.

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