segunda-feira, 14 de julho de 2008

A Obrigatoriedade do Diploma de Jornalista

Mais uma equipe unindo forças contra o protecionismo sindical. O texto a seguir foi publicado originalmente no dia nove deste mês, no site Viva Cidade. Dirigindo-se ao colega Luís Renato Cruz Vieira de Andrade, o Capeta agradece a equipe do site. Jornalismo de verdade se faz assim: de cara limpa e com honestidade intelectual. Pobres acadêmicos com uma cadeira de ética espremida entre as greves das univesidades. A ética é a Ética. Não se pode separar um estudo tão nobre e legítimo em nichos profissionais, que não cabem dentro do conceito formal e universal de uma universidade ideal.

Nas próximas semanas, o Supremo Tribunal Federal (STF) deverá julgar um Recurso Extraordinário que, se aprovado, vai desregulamentar a profissão de jornalista porque elimina um dos seus pilares: a obrigatoriedade do diploma em Curso Superior de Jornalismo para o seu exercício.

Comentários:

O termo "obrigatoriedade" é um termo um pouco autoritário que faz lembrar um certo período obscuro da História do Brasil.

A profissão de jornalista não será desregulamentada uma vez que este profissional sempre será reconhecido e necessário na sociedade. Apenas não se obriga uma pessoa a ter o diploma para o exercício do ofício, assim como ocorre em muitas profissões.

Atualmente, há uma gama tão grande de atividades que atingem este profissional que chamá-lo de jornalista o reduz a trabalhar somente na mídia impressa, realidade que há muito tempo ficou no passado. Neste século, na Era da Informação, o profissional deve ser multimídia.

A vivência e a experiência muitas vezes são mais importantes do que somente as teorias aprendidas em sala de aula.

A liberdade no estado democrático de direito prevê a livre escolha e expressão de idéias. Portanto, ter diploma é algo apenas opcional uma vez que o direito de expressão é constitucional e exigir diploma para que este direito seja exercido por qualquer cidadão esbarra na inconstitucionalidade.

A exigência de diploma de jornalista pode gerar preconceito na sociedade uma vez que os patrões irão escolher apenas os que têm diploma. Já os sem diploma serão excluídos do mundo do trabalho. Além disso, esta exigência pode fazer com que o talento do candidato ao emprego seja colocado em segundo plano e o diploma sem talento em primeiro.

Os sindicatos faturam com a diplomagem dos profissionais e arrecadam alto com mensalidades. O discurso corporativista é sempre bem vindo em situações em que a própria existência de sindicatos de jornalistas ou associações de imprensa está sendo questionada pela sociedade.

Alguém que não tenha diploma de jornalista poderá ser considerado como não apto para dizer publicamente a verdade. Isso pode gerar um imperialismo ditatorial dos que possuem diploma como se somente aos mesmos fosse dado o direito de expressão pública.

Portanto, o direito de publicar a verdade pertence a todas as pessoas e é constitucional. Já o direito de ter diploma ou não é meramente opcional bem como o de se filiar ao sindicato.

Profissionais de outras áreas escrevem para os jornais. Nem por isso os jornais deixam de publicar as matérias. Portanto, se houver a exigência do diploma, os especialistas em certos assuntos não mais poderão expressar suas idéias em jornais ou na mídia?

Com a obrigatoriedade do diploma, as pessoas interessadas serão obrigadas a fazer faculdade de jornalismo.

Como as faculdades de jornalismo anunciam na mídia (jornais, revistas, TV, rádio, internet, etc.), esta fica a favor do diploma. Utilizando o discurso corporativista, a mídia procura legitimar os cursos de jornalismo para que as faculdades arrecadem com as mensalidades. O dinheiro destas mensalidades irá pagar os anúncios publicitários da faculdade que estão publicados na mídia. Assim, as faculdades de jornalismo alimentam a mídia que alimenta as faculdades de jornalismo.

A diversidade de pensamento e opinião já está incorporada na sociedade do século 21 e, com a internet, esta diversidade também está presente na mídia. Estamos em plena democracia onde a mídia cada vez mais está podendo pertencer a qualquer cidadão. Hoje, todos podem ter blog, site, orkut, fóruns, etc. para expressar livremente suas opiniões.

A defesa do diploma de jornalista pertence a certos grupos que não toleram a crítica ou a opinião divergente. Pode estar ocorrendo também um interesse econômico por parte das faculdades de jornalismo e dos sindicatos. Portanto, é preciso saber que interesses estão por traz desta bandeira que pode muito mais ameaçar a democracia do Brasil do que avançá-la.

O exercício profissional do Jornalismo é uma atividade reconhecida pela sociedade através do ofício de quem o pratica. Um sapateiro não tem diploma de sapateiro, mas ele pode ser o melhor sapateiro da cidade por reconhecimento social de seu trabalho, e não por um diploma.

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