segunda-feira, 23 de junho de 2008

A condição Humana na sua historicidade

Júnior Grings

Como falar sobre determinado assunto, quando nossas dúvidas e ansiedades estão em pleno fervor? Poderia aqui ficar detido na tarefa empreendida pelo professor e tentar, por fim, justificar a continuidade da modernidade baseado em uma gama diversa de autores. Entretanto, minha consciência obriga-me a uma aventura arriscada, mesmo que o preço dela seja a total invalidação desse inexpressivo manuscrito. As marcas históricas não podem estar acima dos interesses humanos. Qual é a legitimação científica ou filosófica do conhecimento se não o homem? E o que é o homem se não suas manifestações de compreensão e expressão?

A maior herança da modernidade é a possibilidade de podermos diferenciar o significado do seu significante, a separação do sujeito e objeto de forma clara. O objeto perdeu a sua forma concreta graças à separação entre ciência e filosofia/teologia, depois, com a separação da filosofia e as ciências humanas.

Notoriamente, ao olharmos a Grécia antiga, vamos perceber a proximidade entre ciência e filosofia. Uma necessidade em buscar e justificar o fundamento último, claro, sempre com uma forma palpável ao mundo externo. Fazer ciência era fazer filosofia, as experiências eram sempre dispostas a comprovar o absoluto. Platão e Aristóteles recorriam ao mundo empírico para, formalmente, sustentar seus sistemas, mesmo considerando as imperfeições dos mesmos.

O período medieval aprisiona esses sistemas de uma forma teológica, buscando sempre a partir das ciências – de uma maneira restrita – e da filosofia, justificar o fundamento último e absoluto, rotulado de deus. Os conceitos de bom, ruim, verdade, belo, precisam de argumentos sólidos, digamos, mensuráveis.

O avanço científico e o começo da introdução do método fazem a ciência desprender-se da filosofia e da teologia com o começo da modernidade. O conhecimento científico passa a qualificar e quantificar os fenômenos, os fatos, os acontecimentos, enfim, começa a explicar a natureza. Inegavelmente, a ciência produz soluções para os problemas do homem. Todavia, nas soluções produzidas pela ciência apenas tem valor os fenômenos explicados, o objeto em questão pode ser entendido e explicado. Os problemas gerados por essas soluções continuam no campo especulativo, onde a filosofia, apoiada hora na teologia e hora nas ciências humanas, tenta produzir seus conhecimentos.

Como avalista de dois campos com conhecimento específico, a filosofia não consegue gerar conhecimentos que não sejam concretos. Legitimar um deus, ou determinada teoria social, não vai além de buscar a solução dos problemas. É pertinente lembrar que só existe solução para os fenômenos. Nenhum um fenômeno é transcendental, não acompanha o homem em sua história.

Com alguma clareza, podemos perceber, seguindo esse raciocínio, que toda ciência é descontinua. Os problemas surgem ao decorrer do processo histórico, e cada instante da história as soluções dos problemas se justificam. Entretanto, o que transcende a tudo isso são os problemas das soluções. E isso não tem um atrelamento concreto aos fenômenos, é o que transcende no homem. Os objetos e fenômenos da ciência passam a ser a expressão e interpretação das suas conseqüências.

Quando a ciência – incluindo as humanas e a teologia – passa a solucionar os problemas, e a filosofia descobre o seu verdadeiro papel de especular sobre os problemas da solução, é que de fato podemos considerar a consolidação da modernidade.

Mencionada logo no início, a separação do significado e significante, merece uma atenção especial para prosseguirmos nosso empreendimento. Quando desprendemos a filosofia da ciência – da maneira posta anteriormente – notamos que o objeto (significante) não é mais necessariamente vinculado ao seu significado. Não precisamos levar o objeto conosco quando formos dele emitir qualquer juízo. Através da linguagem emitida tanto de maneira filosófica ou científica, podemos de maneira satisfatória argumentar sobre ele. Com essa, ótica para afirmarmos o fim da era moderna ou a sua continuação, precisamos resolver de forma fundamentada um problema que continua longe do seu fim. A ciência e a filosofia precisam de forma conjunta estabelecer um conhecimento que seja a solução de todos os problemas e, ao mesmo tempo, o fim dos problemas da solução.

Esse conhecimento precisa ser concreto de maneira suficiente, e transcendental de maneira absoluta. Do contrário entraremos em um novo ciclo teológico.

Supor um domínio científico dos fenômenos de tal envergadura é contrapor o papel das ciências, que necessita dos fenômenos e dos acontecimentos para produzir seus conhecimentos. Ainda nesse viés, é necessário uma emancipação plena da condição humana de maneira transcendental a toda sua historicidade. Seria como chegar ao fim de todas as buscas que o homem almejou.

Meus anseios e temores balançam ao tentar emoldurar tanto o esgotamento da capacidade humana, pelo seu uso pleno, quanto visualizar a nossa incapacidade histórica de chegarmos ao nosso limite máximo.

Posso ariscar dizer que cabe a condição humana – e apenas a ela – esse próximo passo no seu periodismo histórico. Demarcar os limites e buscas, tanto científicas quanto filosóficas, é papel do homem.

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