Depois de algum tempo e muita observação, o ser humano acaba aprendendo algumas coisas. Alguns descobrem talentos e aptidões, outros têm mais sorte: descobrem que não servem para uma determinada tarefa. Eu tive sorte: bem cedo, descobri que não sirvo para trabalhos manuais. É surpreendente, mas as pessoas não se dão conta do quanto é importante descobrir as próprias imperfeições. Detesto o positivismo brasileiro e a auto-ajuda me causa brotoejas. Portanto, julgo que é importante encontrar as próprias imperfeições para que possamos fugir delas como o diabo da cruz. Sem essa conversa idiota de enfrentar os medos e novos desafios. Quem gosta de sofrer é masoquista. Se não for este o seu caso, faça uma lista das coisas que você não sabe fazer e evite-as. Assim mesmo: simples e sem remorso.
Se você não aprendeu até os 10 anos a amarrar os cadarços, faça como eu, compre calçados com velcro e o resto que vá para o espaço.
Quando eu tinha 15 anos, por exemplo, decidi que gostaria de aprender a fazer algo, seria uma forma de me afastar da condição de inútil. Na verdade, não foi uma decisão tão pessoal assim, mas uma ordem do meu avô que, mais uma vez, sua fazendo uso da sua sabedoria analfabeta, ordenou-me que eu fosse a um desses centros de formação profissionalizante aprender algo. Ótima idéia do velho! Inscrição. Prova de admissão. A concorrência era grande. E, finalmente: a aprovação. A glória! Pela primeira vez na minha vida eu fui melhor que outras pessoas em alguma coisa. Quase entrei em estado de nirvana.
Pura burrice a minha. Burro é assim: só aprende rachando a cara, mesmo.
Foi o período mais surreal da minha famigerada existência. No começo era uma euforia. “Eba! Passei no meu primeiro vestibular! Terei uma profissão e um emprego!” Depois...
Em poucas horas, eu descobri o vasto universo de coisas para as quais, simplesmente, não presto. No curso de Manutenção de Máquinas Agrícolas, observei todos os meus defeitos. Sofri a pior humilhação que alguém pode sofrer: fui pisoteado por mim mesmo, pela minha própria inaptidão. Isso é uma coisa muito maluca. Recomendo que todos evitem isso. Não cometam o mesmo erro que o idiota aqui.
No curso, enquanto as aulas eram teóricas, tudo estava indo bem. Eu entendia os cálculos, gostava de analisar os desenhos dos motores e achava até divertido ter informações sobre segurança no trabalho. Mas bastou que uma ferramenta fosse colocada na minha mão para que o mundo viesse a desabar. Absolutamente tudo que eu pego estraga. Não tenho habilidade manual nenhuma.
Quando vi aquela oficina, sabia que não conseguiria trocar sequer uma lâmpada do farol de um trator, por mais simples que fosse a operação. Minhas mãos suavam cavalarmente e tudo que é muito bruto ou muito delicado faz minhas glândulas sudoríparas aumentarem ainda mais o suor.
Trocar uma lâmpada é algo terrível. Comer chesseburger, sem garfo e faca, é lambuseira certa. Servir um copo de refrigerante com aquelas garrafas pet enormes: sujeira. Até hoje, evito essas coisas.
Na primeira aula prática, fui pegar uma chave de fenda na prateleira e, como que por encanto, todas as chaves vieram abaixo.
Felizmente, logo arrumaria a generosidade e a paciência do Sérgio Mallmann, meu primeiro editor-chefe, para me afastar dos objetos cortantes. Fui trabalhar na rádio e no jornal dele. Ufa! Ainda bem que não morri.
Desde o fracasso no curso profissionalizante, meu problema de suor nas mãos foi multiplicado. Hoje, está na décima potência. Dez anos depois, continuo escravo da Mariposa, uma toalinha que uso para secar as mãos. Ela tem esse nome em virtude da borboleta bordada no canto. Mais uma inaptidão descoberta: não sirvo para dar nome às coisas.
Se você não aprendeu até os 10 anos a amarrar os cadarços, faça como eu, compre calçados com velcro e o resto que vá para o espaço.
Quando eu tinha 15 anos, por exemplo, decidi que gostaria de aprender a fazer algo, seria uma forma de me afastar da condição de inútil. Na verdade, não foi uma decisão tão pessoal assim, mas uma ordem do meu avô que, mais uma vez, sua fazendo uso da sua sabedoria analfabeta, ordenou-me que eu fosse a um desses centros de formação profissionalizante aprender algo. Ótima idéia do velho! Inscrição. Prova de admissão. A concorrência era grande. E, finalmente: a aprovação. A glória! Pela primeira vez na minha vida eu fui melhor que outras pessoas em alguma coisa. Quase entrei em estado de nirvana.
Pura burrice a minha. Burro é assim: só aprende rachando a cara, mesmo.
Foi o período mais surreal da minha famigerada existência. No começo era uma euforia. “Eba! Passei no meu primeiro vestibular! Terei uma profissão e um emprego!” Depois...
Em poucas horas, eu descobri o vasto universo de coisas para as quais, simplesmente, não presto. No curso de Manutenção de Máquinas Agrícolas, observei todos os meus defeitos. Sofri a pior humilhação que alguém pode sofrer: fui pisoteado por mim mesmo, pela minha própria inaptidão. Isso é uma coisa muito maluca. Recomendo que todos evitem isso. Não cometam o mesmo erro que o idiota aqui.
No curso, enquanto as aulas eram teóricas, tudo estava indo bem. Eu entendia os cálculos, gostava de analisar os desenhos dos motores e achava até divertido ter informações sobre segurança no trabalho. Mas bastou que uma ferramenta fosse colocada na minha mão para que o mundo viesse a desabar. Absolutamente tudo que eu pego estraga. Não tenho habilidade manual nenhuma.
Quando vi aquela oficina, sabia que não conseguiria trocar sequer uma lâmpada do farol de um trator, por mais simples que fosse a operação. Minhas mãos suavam cavalarmente e tudo que é muito bruto ou muito delicado faz minhas glândulas sudoríparas aumentarem ainda mais o suor.
Trocar uma lâmpada é algo terrível. Comer chesseburger, sem garfo e faca, é lambuseira certa. Servir um copo de refrigerante com aquelas garrafas pet enormes: sujeira. Até hoje, evito essas coisas.
Na primeira aula prática, fui pegar uma chave de fenda na prateleira e, como que por encanto, todas as chaves vieram abaixo.
Felizmente, logo arrumaria a generosidade e a paciência do Sérgio Mallmann, meu primeiro editor-chefe, para me afastar dos objetos cortantes. Fui trabalhar na rádio e no jornal dele. Ufa! Ainda bem que não morri.
Desde o fracasso no curso profissionalizante, meu problema de suor nas mãos foi multiplicado. Hoje, está na décima potência. Dez anos depois, continuo escravo da Mariposa, uma toalinha que uso para secar as mãos. Ela tem esse nome em virtude da borboleta bordada no canto. Mais uma inaptidão descoberta: não sirvo para dar nome às coisas.
2 comentários:
.....mas colocar em palavras escritas um pensamento, uma idéia...é uma boa habilidade hein? só uma dúvida: vc digita o texto "catando milho" ou fez o curso de "datilografia"(eu fiz,sou de antigamente) e agora a gente se exibe no teclado do pc? heheheh
Aprendi a datilografar na máquina de escrever. Fiz um daqueles cursinhos oferecidos pela prefeitura de Santa Rosa. Cumpro, hoje, uns 180 toques/minuto. O problema é que o suor das mãos arrebenta um teclado/semestre. Aí, fica difícil, mesmo assim. Abç
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