terça-feira, 22 de abril de 2008

Salário e qualidade dos professores

O articulista da Revista Veja Gustavo Ioschpe é uma das mentes com mais de dois neurônios que tentam demonstrar que os salários pouco interferem na qualidade da educação pública. Diferente disso, os professores que ministram disciplinas que são dominadas por eles academicamente acabam sendo vanguarda em termos qualitativos.

A reivindicação por melhores salários tem apenas legitimidade sindical e pessoal. A qualidade da educação não tem nada com isso. É errado usar isso como bandeira política.


*Gustavo Ioschpe (Revista Veja)

Sempre que falamos da pesquisa empírica que revela não haver relação entre os salários do professor e a qualidade do ensino que ministram, medido pelo desempenho de alunos em testes nacionais e internacionais, surge uma contestação válida (dentre os muitos xingamentos): talvez não haja relação entre os professores atuais, mas um aumento salarial seria indispensável para atrair profissionais mais qualificados para a carreira do magistério.

No Brasil, não há evidência que apóie essa hipótese. O único estudo que eu conheço que trata do tema no Brasil, de Naercio Menezes-Filho e Elaine Pazello, demonstra que na maioria dos casos o salário não tem efeito na rede pública e que, quando ele aparece de maneira significativa – apenas quando se compara o salário de professores da mesma cidade, mas de redes de ensino diferentes (estadual vs. municipal) - nota-se que os professores mais jovens que têm salários mais altos têm desempenho melhor. Não é possível dizer, portanto, se o efeito se deve ao salário ou à juventude dos professores. Se fosse o salário, seria de se esperar que pessoas de mais idade, e não apenas os jovens, se sentissem atraídos a ir para a carreira de professor.

Acabo de voltar de um seminário em El Salvador em que o tema foi discutido em relação à América Latina como um todo – nossos problemas são bastante parecidos em todo o continente, ainda que o Brasil esteja em posição pior do que a esperada por seu nível de desenvolvimento. Um dos papers apresentados, de Daniel Ortega, tratava especificamente dessa questão, retratando o caso da Venezuela. Lá, há um exame nacional para ingresso no ensino superior, onde cada aluno deve escolher três opções de carreira. É possível consultar os dados de desempenho dos alunos e comparar com as carreiras que escolhem, bem como cruzar esses dados com os salários de professores por estado. A pergunta que ele busca responder é: nos lugares de maior salário de professor, aumenta o número de pessoas mais qualificadas (que tiram notas melhores no exame nacional) que procuram a carreira do magistério? A resposta, como pode se ver, é negativa.

Seria interessante replicar essa mesma metodologia para o Brasil, talvez com os dados do Enem ou, melhor ainda, da última série do SAEB. Seria necessário adicionar a esses testes uma pergunta sobre a carreira que o candidato pretende seguir. Fica a idéia.


* Articulista da revista Veja, economista e especialista em educação.

Um comentário:

blogpraque disse...

Interessante fazer um levantamento estatístico deste. Quem sabe poderá ser usado em alguma reunião que não leve a nada.

E, com certeza, um aumento do salário dos professores não deveria ser discutido, assim como o dos deputados. Bem, estou ironizando no segundo caso.