sexta-feira, 4 de abril de 2008

AMOU - Parte II

Essa é a segunda parte de AMOU, o conto mais psicodélico feito exclusivamente para O Capeta. Na sessão "Contos", à direita, o leitor pode resgatar a edição anterior de AMOU e os outros contos de Ana Zyk. Na semana que vem, teremos o fim desta história.

Ana Zyk

Minhas mãos suavam. Eu as esfregava em minhas calças tentando secá-las e disfarçar meu nervosismo. Estatizado, ele continuava me olhando. Sua veia pulsando no pescoço me incomodava.

“Em três anos, já fazia parte da diretoria. Lembra daquele grupo de punks homens que foram presos por discriminação por terem xingado uma motorista apenas por ser mulher?”

Ele não respondeu... Mas eu sabia que lembrava.

“Pois é... teve aquela repercussão toda na mídia porque a tal senhora fazia parte do Gufo e foi auxiliada pela nossa advogada gufiana. E muitos outros acontecimentos, que só tomou tal dimensão, porque nosso grupo organizado resolveu agir de forma pensada”.

“Marina, me fala logo o que isso diz respeito com o nosso relacionamento? O que esse tal de Gufo tem com a nossa história?”

Outras veias começaram a aparecer e a pulsar forte. Engoli saliva. Sequei as mãos nos lençóis da cama. Segurei forte a bolsa em meu colo.

“Calma. É preciso que eu lhe conte tudo. Por favor, tenha paciência. E, por favor, me perdoe, Rogério... me perdoe”.

“Bom... em três anos também foi tempo suficiente para que eu mudasse minha mentalidade e...”
Veias pulsando em seu pescoço, salivas espumando em minha boca, mãos suando.

“...E me apaixonar”.

“Marina, você se tornou lésbica? Hein, Marina?”

Inquietação...

“Ora, que grosseiro de sua parte Rogério! Lésbica para as gufianas é um termo machista. Eu sou amou”. Ou me tornei, sei lá”!

“Marina, isso só pode ser piada! Amou, o que é isso, amou?”

“Amada por outra”.

“Marina, o que fizeram com você? Pelo amor de Deus! Isso não faz sentido! Um grupo secreto! “AMOU”. Devo estar sonhando, ou isso é uma grande pegadinha! Cadê a câmera para eu poder dar uma bela gargalhada como se dissesse: “caí direitinho nessa”? Cadê Marina, cadê”?
Desespero.

‘Bem que as mulheres do Gufo me avisaram dessa fase da não aceitação e loucura’, penso comigo.

“Calma, Rogério, não é pegadinha e não há câmera alguma pra você sorrir! Escute-me, pois eu não terminei. Eu me apaixonei e me casei com uma mulher gufiana”.

Esta hora ele já estava de pé e ao contrário do início de nossa conversa, ele não conseguia mais se olhar no espelho. Tanto que até o quebrou com o soco que deu neste momento.

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