Everton Maciel
Para o consagrado filósofo francês Luc Ferry, que recentemente palestrou na PUC/RS, a democracia tem um sério problema: os representantes precisam ser eleitos. Isso quer dizer, em outras palavras, que a popularidade faz um governo ser vitorioso ou derrotado. No entanto, dentro de um contexto com comunicações cada vez mais dinâmicas, devemos levar em consideração que o representante do povo deve estar sempre na mídia. E que deve empregar a maior parte do seu tempo numa operação que venda urgentemente sua imagem.
Para Ferry, 99% daquilo que um ministro ou um secretário faz, deve estar ligado diretamente a “aparecer na foto”. Para que seja lembrado constantemente pela população e possa obter sucesso, mantendo-se no comando através da maior arma democrática, o voto. Mas que tempo sobra para o projeto? Apenas um por cento do tempo do governante? Desculpados os devidos exageros, é mais ou menos isso.
Os números de Ferry apontam o paradoxo: na França, os que mais trabalharam e conseguiram colocar em prática seus projetos políticos foram os que menos tempo ficaram no comando das suas pastas. Ele fala com a experiência de quem já comandou o Ministério da Educação francês. No Brasil, uma pesquisa a respeito poderia apontar conclusões semelhantes. O que soma pontos na urna acaba sendo a simpatia, o carisma, o contato com a massa. O trabalho é sempre relegado a um segundo plano.
Justamente foi nesse ponto que o ex-secretário de Segurança, Enio Bacci, pecou: resolveu trabalhar. Agora chora as magoas. A pasta é a grande menina dos olhos do governo Yeda Crusius. Os números apresentados nos mostram que as corporações policiais vêm trabalhando com efetividade e combatendo o crime com rigor. A Brigada Militar e a Polícia Civil nunca trabalharam tanto. Nas rodas de conversa, a reclamação da ausência de policiais nas ruas deu lugar às concentradas operações realizadas nos primeiros 100 dias do governo. Infelizmente, nada disso parece fazer sentido quando se está longe dos microfones.
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